Ephomopo nvusa,
àhávitha amay’aye
vamuru vaya.
A ave ephomopo/calau
é sabotadora dos enterros,
sepultou a sua mãe
na sua cabeça.
Introdução
Visitando as comunidades, a primeira
coisa a fazer é sentar-se no alpendre e trocar-se as novidades. Ao
hóspede é pedido as suas novidades pelo hospedante, e este por sua
vez comunica as suas. A saudação e a troca de notícias nunca é
colectiva, mas é individual, os poucos ou muitos hospedantes todos
aguardam o próprio turno para formular a saudação. É nesta altura
que se chega a conhecer não só as boas novidades mas também e
sobretudo aquelas negativas, dramáticas como doenças que acabam com
a morte.
Lembro uma vez que um animador me
impressionou por vê-lo triste, emagrecido, sem a sua habitual boa
disposição e cordialidade. Falou chorando da morte imprevista da
sua mãe. Procurei consolá-lo como aliás já fizeram os seus
amigos, mas as palavras via-se que caíam em vão, não encontravam
eco positivo de adesão. Mais tarde um animador explicou-me a
gravidade da situação, pois o enlutado não queria mais comer nem
falar, vivia uma vida a-social e solitária. Por fim convidou-me a
dizer umas palavras de animação concluindo: “Lhe fale, padre,
porque ele está a tornar-se como a ave ephomopo que anda com a campa
da sua mãe enterrada na cabeça”.
Naquela altura não entendi o sentido
da alusão à ave ephomopo. Marquei no meu caderno o nome e, chegado
em casa, falei com os pesquisadores do Centro de Investigação que
logo me aprontaram o seguinte aforismo que completa a sugestão do
animador, pois ele não me tinha falado da boicotagem da ave ephomopo
em questão:
Ephomopo nvusa,
àhàvitha amay’aya
vamuru vaya.
A ave ephomopo é
sabotadora dos enterros,
sepultou a sua mãe na sua
cabeça
1- Ephomoko: descrição biológica
Ephomopo mwapalame mutokwene, orakama
ni olipa eyano, oluma munupi owunnuwa ni mapururu vamuru, oripa
mapururu, nxiko nowuma, oxikineya maitho, olikana ni nampeya,
othowaxa, ovava musulu yìpaka ni yikhupanyeraka, okhala mukhatxereni
morakamaxa vamosá ni asikhwayaru, a nthalu
Ephomopo/calau é uma ave
grande, de bico comprido, robusto e picante, é de cor preta, de
cabeça enorme e com penas, de pescoço nu, de olhos vermelhos, é
semelhante ao nampeya, é esporádico, voa chorando e queixando-se,
de voo alto, mora na alta árvore Khatxere, vive em colónia só, é
discriminante.
Iphomopo sinnètta vamosa
mpaka orowa elapo ehinoneya ya Muluku
Namuli.
Os calaus andam juntos
até irem ao mundo invisível de Deus
Namuli.
Ephomopo khentxa malaxi, enatxa
inyunku,
sowima sa mukhatxereni, enakhuriwa, eri
yosiva.
O calau não se nutre de capim,
mas de insectos, dos frutos do
Khatxere,
é comido, sendo de carne boa.
Ephomopo khenkona vathi,
nto ennèmela miri sitokwene.
O calau não dorme no chão,
mas pára nas árvores altas.
Ephomoko enlikana ni nampeya ehuhu
yorela, epuramelaka enimwìxasula, enimwìmarela, ehiyaka ekhwato
ekhanene yoriviha minupi ni yotxa yele ephomopo mulopwana onruhaiye
amutxihaka siso mwariye ni axan’awe; ephomopo muthiyana mapururu
aya ennamela vamosá ni axan’aya.
O calau é semelhante ao
nampeya quando choca, a fêmea depena-se, fecha-se, deixando um
pequeno furo para passar o bico e a comida que o ephomopo macho traz,
alimentando assim a esposa e os pintos; as penas do ephomopo fêmea
vão crescendo-lhe junto com os pintos.
Muru wa ephomopo onalikana ni ekhapuri
ya mutthu.
A cabeça de calau é semelhante à
campa da pessoa.
Wohitheya iyano sa ephomopo, Muluku
namakawa,
Muluku onnakawa sothene ni mukhalelo
awe.
Não rias do bico do calau, pois Deus é
distribuidor,
sim, Deus distribui tudo à sua
semelhança.
Vanrapa iphomopo onyakula khonthowa.
Onde tomam banho os calaus não falta
barulho.
Ephomopo mwapalame atthuna olikana ni
nampeya.
Yokhalano exoxoro vamuru enlikana ni
mahiye.
O calau é uma ave quase igual a
Nampeya,
tem uma crista na cabeça semelhante a
uma campa.
Ephomopo khenètta nnene
niwoko eri ni muritti mutokotokto
vamuru.
O calau não anda bem
pois tem uma carga/crista enorme na
cabeça.
2- Ephomopo: Metáfora
a- Ephomopo: o emprego do chapéu
A primeira aplicação
ou interpretação da fisionomia do calau consiste no emprego do
chapéu. O mestre da iniciação pergunta aos iniciandos quem foi que
trouxe o emprego do chapéu/turbante, para que eles saibam que tal
uso tem a sua origem teológica e a sua motivação e justificação
antropológica.
Yaruwale owara etxirempa tani? Ti
ephomopo,
kheyavo yopattuxiwa ya Muluku
ehinatthara ikano sa Muluku Namuli.
Quem trouxe o uso do turbante? Foi o
calau,
não há criatura de Deus que não siga
os conselhos de Deus namúlico.
b- Ephomopo: metáfora dos casais
A segunda aplicação é
vista no comportamento especial do casal calau. Por um lado o calau
macho durante o período da incubação dos ovos e depois do
desovamento fica fora e sozinho para trazer comida à esposa fechada
dentro da toca do tronco junto com os pintos até eles crescerem e
conseguirem sair fora com a mãe. O comportamento do calau macho
salienta metaforicamente uma das principais tarefas do marido/pai no
lar: além de fecundar, vestir e sepultar, ele deve ser capaz de
alimentar a sua esposa e todos os filhos que com ela gera.
Por outro lado, a calau
fêmea fecha-se na toca, só deixando um furo para receber comida por
parte do marido, depena-se completamente e assim se assemelha até
fisicamente em tudo aos seus pintainhos, acompanhando-os no
crescimento até à altura de abrir a fenda do ninho e sair com o
pintos já adultos. Este comportamento da fêmea proclama
comparativamente a acentuada maternidade na biosofia e biosfera
xirima, a mãe chega até se identificar fisicamente com os filhos em
tudo e por tudo.
Ephomopo mwamulopwana
t’enamutxukulela mwariye ni axan’aya.
Amuthelana evareke muteko
wera yàtxihe axan’aya.
Makholo annèra: otxiha othelana.
O calau macho é que alimenta a sua
esposa e os seus filhos.
Os casais devem trabalhar para
alimentar os seus filhos.
Os antepassados dizem: alimentar é
casar.
c- Ephomopo nvusa: calau
sabotador dos enterros
A terceira aplicação
do calau como metáfora parte da sua crista, vista como mini-campa
que porta sobre a cabeça em consequência do seu comportamento de
sabotador dos enterros. Na iniciação sobretudo dos jovens
insiste-se fortemente no dever de nunca faltar aos enterros dos
vizinhos, da aldeia, dos parentes distantes. Na verdade, o
falecimento ainda hoje é o evento dos eventos, ao qual ninguém se
subtrai. Interrompe-se tudo e deixa-se tudo e todos, mesmo que isto
custe e implique percas consistentes. Embora esta norma e a forte
insistência durante a iniciação, há porém sempre quem encontra
desculpas para não apoiar e ajudar nos enterros. Na devida altura
não faltará quem lhe lembrará a história do calau que, por ser
sabotador dos enterros, quando lhe faleceu a mãe, não sabendo como
enterrá-la, acabou por guardá-la na sua cabeça e assim tornar-se
um cemitério ambulante e crónico durante toda a sua vida.
Os pesquisadores assim
como os mestres da iniciação salientam as consequências nefastas
de tal comportamento negativo não só do ponto de vista da
solidariedade social, mas também do ponto de vista psicológico e
teológico.
Em primeiro lugar do
ponto de vista da solidariedade, faltar sistematicamente aos enterros
é o degrau extremo de asocialidade.
Em segundo lugar, o
calau por não se desligar da campa da mãe, psicologicamente é um
feto ou um embrião ainda não nascido, é uma criança crónica que
nunca se desliga do útero e da dependência da mãe, sem corte
umbilical não inicia o seu próprio caminho de maturidade.
Por fim, impedindo à
mãe a grande viagem de regresso ao útero de Deus namúlico, o calau
quer tornar-se ele mesmo namuli definitivo da mãe, um substituto de
Deus namúlico, a sua impiedade é extrema.
O calau é portanto um invertidor
total do sistema das coordenadas da biosofia e biosfera xirima:
- cemitério ambulante e crónico,
enquanto que o cemitério normalmente não anda, no limite é
visitado na devida oportunidade;
- sabota os enterros e menospreza a
morte como não existente, mas ao mesmo tempo com a campa da mãe na
cabeça mostra cronicamente a existência concreta da morte;
- ama a mãe mas não se desliga dela
nem a deixa regressar à terra namúlica, à pátria de todos,
- vive mas quer conviver cronicamente
com o cadáver da mãe, celebra a vida e ao mesmo tempo a morte
cadavérica.
Ephomopo khayasuwenle okhwa,
ahiyale nroromelo na Muluku Namuli:
yàhàvitha amay’aya vamuru,
khweli mahiye aya ari vamuru vawe.
ni eyano aya etokwene ti poxoro
omahiye.
O calau desconheceu a morte, perdeu a
fé em Deus Namuli,
pois enterrou a mãe na cabeça,
na verdade o seu cemitério está na
cabeça,
o seu enorme bico é a pá do
cemitério.
Yìnlaka ephomopo
enalattula mariro a amay’aya, yìkhupanyera mota wowàvitha
amay’aya. Okhala wera khatthuna okhavihera sa mariro, amay’awe
yakhwiyaya, atthu yàmuhiyera wera àsunkeke mwanene. Ahisuwelaka
mota womuvitha mutthu, ti vavale atthukalaiye amay’awe mmwinlini ni
ànawireya ni ànàvitha vamuru vawe, yèttakano ìnlaka ohawa wawe
mpaka olelo khenasuwela witthuwela muritti ole. Enahima wi ovusa
etthu yonanara: vari ikharari watta soluseya,vari mariro olimiha
myono, nto vaxamalo onnaphwanya, niwoko Muluku onnamuhokoloxera
sothene.
Chorando o calau convida
ao funeral da mãe, queixando-se por como enterrá-la. Dado que não
queria ajudar nos enterros, quando faleceu a mãe, as gentes o
deixaram sozinho a realizar o enterro. Agora não sabendo como se
enterra uma pessoa, acabou por envolver a mãe numa esteira,
carregou-a e enterrou-a na sua cabeça, andando com ela a chorar o
seu sofrimento, até à data não sabe depositar aquela carga. Isto
para os antepassados significa que sabotar os enterros é mau, pois
onde há pena, perde-se muitas coisas, onde há enterros, os braços
tem que cavar, mas ao amanhecer recupera-se logo, pois Deus devolve
tudo.
Ephomopo ennètta ni muttembo wa amaye,
khenàhiya amay’aya ekhwiyene,
enimwèttano ni enìnla ni muttembo aya
vamuru,
enamakela okhweliwaru, kherino mahiye,
ahihikaka amay’aya otthikela owani o
Namuli.
O calau anda com o cadáver da mãe,
não deixa a sua mãe morta,
anda com ela e chora com o cadáver
dela na cabeça,
é sempre enlutado e sem cemitério,
proibindo a sua mãe de regressar a
casa namúlica.
Nsina na ephomopo ti kòná kinottotta.
Eximola khenathipa mahiye.
Wettana mahiye ori ohawa.
Mulipa okhwa khanahiyeraniwa.
O nome do calau é: se eu vir, hei-de
apanhar.
A esmola/dinheiro não cava a campa,
frequentar os enterros é sofrimento.
o defunto não se deixa para os outros.
Mutthu khanèttano mahiye ntoko
ephomopo.
Mahiye khanetta, nto onimwera
wetteliwa.
A pessoa não anda com campa como o
calau.
Os cemitérios não andam, mas são
frequentados.
d- Ephomopo/calau: metáfora
iniciática
Munòna ephomopo yùnnuwalene muru
muhitheye, ekuxale mahiye amay’aya.
Se vires o calau com cabeça enorme
não rias dele, porque leva a campa da
sua mãe.
Makholo annàlaka an’aya omwalini:
muhaleke mukhaviheranaka,
muhikuxe murima wa ephomopo,
khenaruha osivelana nari omusi.
txonde, muhivuse mariro,
nto mukhaviheraneke omuvitha mutthu.
Os antepassados educam assim os
iniciandos:
deveis ajudar-vos,
não imiteis o comportamento do calau,
não produz amor nem parentesco,
por favor, não sabotem os enterros,
mas ajudem-se nos enterros.
Mpuwa mwa makholo ahu,
Ephomopo kherino miruku,
enònihera ntoko mutthu òhìneliwa,
ohureya, ohikharari, a nthalu ni
owikuxera,
ekhalelo ya okhwasuni,
yàlipelela, nkirwa kivusa,
nto onatepa ovusa
Para os nossos antepassados
o calau é uma ave sem cabimento,
se comporta como o não iniciado,
malandro, sem piedade, parcial e
egoísta,
torna-se um órfão/solitário,
pois jurou de não mais sabotar os
enterros,
mas continua a sabotar.
Ephomopo navusa, mutthu ohiniwa
yoleliwa
yàhiya nroromelo na Muluku Namuli,
khaleleya, ekhalelo aya khenarera
otthara
O calau, sabotador de enterros,
é a pessoa que não segue os
conselhos,
deixou de confiar em Deus Namuli,
é desobediente,
o seu comportamento não merece ser
seguido.
Vari ephomopo, murima wotakhala ori
vavo,
enetta mekhaya, makeya enamuhela
mekhaya,
murim’aya khenattharatthariwa,
ori ntoko mwene òhilaka ni a miruku
saphama.
ntoko omwene wohiwanyeya.
Onde vive o calau, há também mau
comportamento,
pois anda sozinho, deita a makeya
sozinho,
é como um rei que não educa bem,
é como o reino onde não há
coordenação.
Ephomopo enalikana ni mutthu ohikhalano
ettini.
Akhwaka khanasomeliwa.
Enlikano tho ni mutthu ohinaxekura ni
enavusa eretta:
onavusa onimwívusa.
O calau é como a pessoa que não tem
religião,
quando morre não se faz oração,
é semelhante também à pessoa
que não visita e sabota a doença:
quem sabota, sabota-se a si mesmo.
Ovusa wisiva. nahuwo,
ovusa okhotta osuwela.
ovusa ohisuwela sa muholo.
ovusa wiva samakholo.
ovusa oruha nthalu.
ovusa oyaviha nloko.
ovusa oruha ohiwanana vapumpani.
Sabotar enterros é matar-se,
é recusar de saber,
é desconhecer o futuro,
é matar a tradição dos antepassados,
traz discriminação e discórdia na
família,
diminui o parentesco.
Ohileleya/ovusa wa ephomopo
ti mulattu mutokwene sa okhwa,
khenìwa’mo wi okhwa wòkhala,
khonsempeya,
enaruna wi okhwa ti mukwaha wa Muluku
Namuli,
vonvitha nokhwa vamuru vaya,
enakhotta hatá enapisiha
wi nokhwa ètteke mukwaha mutokwene,
avolowe mulako womalihera,
atthikele owani,
muniphwanyani mwa Muluku Namuli maye.
A rebeldia ou sabotagem do calau
é um problema grave em redor da morte:
não entende que a morte existe e é
inevitável,
recusa que a morte é a viagem para
Deus Namuli,
sepultando o morto na sua cabeça,
nega e faz atrasar que o defunto inicie
a grande viagem,
atravesse a última porta e assim
regresse a casa,
sim, ao útero materno de Deus Namuli.
Okhwa tthobwa: khavo ahinimphuka.
Okhwa ntthavi na Muluku.
Okhwa epula etokwene.
Okhwa ephiro ya Muluku.
Okhwa khonikhottiwa.
Okhwa khonirakamela ni atthu.
Okhwa ori mmatatani.
Okhwa nipontta na Muluku.
Okhwa mulako womalihera wa Muluku.
Okhwa olakiwa womalihera wa mutthu.
Okhwa khonuliha muru.
Okhwa khonironya.
Okhwa ovinya valaponi.
Okhwa ottimula ekwaha.
Omahiye khonathololiwa ikhulo.
Morrer é como a bebida doce:
não há ninguém que não a faz.
A morte é a rede de Deus.
A morte é grande chuva.
A morte é caminho de Deus.
A morte não se recusa.
A morte não fica longe das pessoas.
A morte está nas mãos.
A morte é hortaliça de Deus.
A morte é a última porta de Deus.
Morrer é o último conselho da pessoa.
Morrer não envergonha.
Morrer é sair no mundo.
Morrer é viajar.
No cemitério não se vira as costas.
Ohileleya/ovusa wa ephomopo
ti mulattu mutokwene sa ekumi:
erutthu kahiyene empa ya okhwa/nihiye,
mene ti empa ya ekumi,
ehunttihe ni muttembo,
wona wi ekumi eri mmwapuni.
ti muhako wakuva omora.
ti mahí: yamora khanattotteliwa.
ti ntoko mmwirini: khonakoniwa
omalelaka.
ti nikula na nlusi: khannaroromeleya.
A rebeldia ou sabotagem do calau
é um problema grave acerca da vida
também:
o corpo nunca é a casa da morte/campa,
mas é a casa da vida,
é preciso que não apodreça com o
cadáver,
pois a vida está numa panela,
é riqueza que cai logo,
é como água: se cair, não se
recolhe;
é como na árvore: não se dorme lá à
vontade,
é como a casquinha do rio: não se
confia muito nela.
Mpuwa mwa makholo ahu ephomopo
mwapalame
onàhusiha atthu etthu ela etokotoko:
oxukurana/okhaviherana ti wivitha.
Para os nossos antepassado
o calau é uma ave que ensina à gente
esta grande coisa:
visitar-se e ajudar-se é garantir-se
uma sepultura.
Khapá ti òrera murima, onnaxekura,
ephomopo ti yonanara murima,
khanaxekura.
Khapa onnètta ni emp’awe,
ephomopo ni mahiye a amay’aya.
Khapa t’otxentxera ni ephomopo ti
yolosowa. Sa makholo sinalikana ni ekhalelo ya khapa,
sa satana sinalikana ekhalelo ya
ephomopo.
Khapá ekahi ya Muluku,
ephomopo onyonyiwa wa Muluku.
O cágado tem bom coração, visita,
o calau tem mau coração, não visita.
O cágado anda com a sua casa
e o calau anda com a campa da sua mãe.
O cágado é esperto e o calau é
insensato.
As coisas dos antepassados são como o
cágado.
as do satanás é como o calau..
O cágado é cabaça de Deus,
o calau é a zanga de Deus.
Vowettano mahiye a amay’aya
vamuru nihiku nri nothene,
ephomoko khanttuna wàhiya amay’aya
wera epwahereke etthikele owani o
Namuli,
khantthuna omwalana ni amaye,
erokhalaru ovusa, ennamuxukurela Muluku
vowona amay`aya kula nihiku,
Por andar sempre com a campa da mãe na
cabeça
o calau não quer deixar partir a mãe
para que regresse a casa do Namuli,
não quer separar-se dela,
embora seja sabotador dos enterros,
agradece a Deus por ver sempre a sua
mãe.
Ohileleya wa ephomopo ti okhwa.
Muru wa ephomopo ti ekhapuri awe.
Nokhwa a ephomopo khanalattuliwa.
A rebeldia do calau causa a morte.
A sua cabeça é o seu cemitério,
a sua morte não se comunica.
Ovusa mahiye onanara,
empa etokwene mahiye.
Boicotar a campa é mau,
a casa grande é o cemitério.
Namavusa onalakiwa akhweliwene.
Namavusa wamùnttela muttembo.
Namavusa ti nahuwo.
O sabotador é educado quando está de
luto,
ao sabotador apodreceu-lhe o cadáver,
o sabotador é a toupeira.
3- Ephomopo ni
Muluku
O calau e Deus
Boicotar os enterros
além de ser um acto que infringe o princípio da solidariedade, é
também um acto de impiedade, de falta de fé em Deus namúlico que
faz sair tudo do seu útero materno provisoriamente para depois
chamar tudo de regresso ao seu útero matriarcal. Impedindo à mãe a
grande viagem de regresso ao útero namúlico, o calau torna-se ele
mesmo um namuli definitivo da mãe, um substituto de Deus Namuli, a
sua impiedade é extrema, pois ele se comporta como um sabotador e um
inversor de todo o sistema das coordenadas da biosofia e biosfera
xirima.
Contudo, típico da
biosofia e biosfera xirima, o calau por ter sido gerado por Deus
namúlico com as peculiaridades analisadas, tem o seu lugar no
silabário da vida xirima, não foi gerado assim à toa. Deus
confiou-lhe uma tarefa, o fez mestre com a tarefa de ensinar e
lembrar ao mutthu o contrário do que ele é e faz. Como no estado
liminal das iniciações onde tudo é permitido para que não seja
feito no tempo normal, também o calau celebra na liminalidade
crónica da sua existência desvalores que devem ser categoricamente
evitados na vida do mutthu. A morte existe, negar a morte seria negar
a Deus mesmo, a origem e o regresso para lá. Se a biosofia e a
biosfera dão tanto relevo aos enterros, é porque, antes de ser a
morte um imperativo categórico, é um indicativo categórico ao
serviço da vida.
Ovusa etthu yonanaraxa vamaithoni
vatthu
ni tho vantxipalexa vamaithoni va
Muluku.
A sabotagem dos enterros é uma coisa
muito má
aos olhos do mutthu mas sobretudo aos
olhos de Deus.
Muluku onnìnnuwa ni ovithana:
anamwan’awe annahokolowela owani
muniphwanyani mwa pwiyamwene Namuli.
Deus cresce/vive por meio dos enterros
recíprocos:
os seus filhos regressam a casa,
ao útero matriarcal namúlico.
Ephomopo mwapalame ola
vowetta ni muttembo vamuru vawe
onakhotta mukwaha mutokwene wa Muluku.
O calau é uma ave que indo com um
cadáver na cabeça,
recusa a viagem grande de regresso a
Deus.
Muluku onasuwela ophima sothesene,
onasuwela sothene sipattuxiwe ni
yowene,
akawaka sothene ni mukhalelo awe.
Okhala wera Muluku namuku a emwali,
vanonto nihitheye ekhalelo ya ephomopo:
ti Muluku ùnnuwihale muru wa ephomopo,
èrelaka okhala mahiye a amaye aya.
ti Muluku mwanene ovahile ephomopo
ovasa ni wetta ni muttembo va muru,
wera nilakiwe phama,
nihikuxe ekhalelo ya ephomopo nari
vakhanene,
nihivuse mariro ari othene,
nto nikhaviheraneke, nivithaneke,
nihipisihe okhopela wenno mukwaha
womalihera,
nto nitthikele owannyawe Namuli,
okhopela iwe,
vowakuveya ni ni murettele.
Deus sabe medir tudo bem,
conhece tudo o que foi por ele gerado, partilhando em toda a parte a
sua imagem. Sendo ele grande mestre de iniciação, portanto não
devemos rir do comportamento do calau, pois foi Deus que lhe fez
crescer a cabeça para que seja a campa da sua mãe, é Deus mesmo
que lhe deu de sabotar os enterros e andar com a cadáver na cabeça,
para que ficássemos bem iniciados, não assumíssemos o exemplo do
calau, não sabotássemos os enterros, mas nos ajudássemos e nos
enterrássemos mutuamente e assim não nos atrasássemos aqui nesta
terra na última viagem, mas regressássemos à sua demora Namuli, na
outra margem, sem demora e em paz.
Mukhw’à ùnnuwa muru à ohimutheye,
Muluku t’onvahiye sawasawa ephomopo.
Se o teu companheiro tem cabeça
grande,
não rias dele: Deus é que lha deu
como o calau.
4- Ephomopo ni ekristu
O calau e a Fé cristã
O calau como metáfora
inserida no contexto cristão, além de ser também para o cristão
um paradigma liminal de valores importantes na vida social
(solidariedade), torna-se um aquétipo cristão, o protótipo
transcendente que transfigura e sublima o tipo categorial.
Yesu
Yesu khakhanle navusa,
àmuxekura Maria ni Marta,
yakhweliwaya murokor’aya Lazaro.
Jesus não foi sabotador,
pois visitou Maria e Marta,
quando ficaram enlutadas do seu irmão
Lázaro.
Simoni ò Kirene kahiyene namavusa
ntoko ephomopo,
t’amukhavihenre Yesu otexa muttanda.
Simão de Círene não foi sabotador
como o calau,
pois ajudou a Jesus a carregar a cruz.
Ephomopo muritti aya vamuruni vawe
wolemelaxa,
nto Yesu àhèra: “Murweke mwa miyo
nyuwo othene munatexa muritti wolemela,
niwoko muritti aka ti woveya”.
O peso na cabeça do calau é
pesadíssimo,
enquanto Jesus disse: “Vinde a mim,
vós todos carregados de pesos
excessivos,
pois o meu peso é leve”.
Yesu ti ephomopo ya Watana wa nanano,
àtexa vamuru vawe, anyi, mwerutthuni
mwawe
okhwa wa atthu othene,
apwahaka ni atoloxaka okhwa khuluwi.
Jesus é o calau do NT,
carregou sobre a sua cabeça,
sim, no seu corpo, a morte de todos,
superando e vencendo toda a morte de
vez.
Ephomopo enìkhupanyera niwoko nokhwa
àmay’aya,
Yesu arowaiye o Yerusalemu
àhìkhupanyera
niwoko na ottiya maru wa Yerusalemu.
O calau lamenta-se pela morte da mãe.
Indo a Jerusalém, Jesus queixou-se
pela incredulidade de Jerusalém.
Ephomopo nihiye na maye va muru vawe
onalikana owarihiwa wa Yesu miwa
mmuruni.
A campa da mãe do calau na sua cabeça
é como a cabeça de Jesus coroada de
espinhos.
Mkristu ni Ekereja
Fé cristã e Igreja
Iphomopo khasinamwalamwala ehuhu
yothene,
nto sinnakhala muloko mmosaru:
sinnanihusiha omusi/oyarana.
Oyarana niparimá: khannathummwa.
Yesu arene vamuttandani àhima wa
amay’awe:
maye, owo ti mwan’inyu
ni wa ohuser’awe: awo ti amay’anyu.
Os calaus nunca se separam, vivem em
colónia.
Com isto ensinam-nos a comunhão
parentesca
que é como uma cicatriz que não se
compra.
Jesus estando na cruz dizia a sua mãe:
“Mãe, este é o teu filho” ,
e ao seu discípulo: “Esta é a tua
mãe”.
Wireya mahiye mwekristuni
onahima otexa mutthu ti mutthu
muttand’awe.
Carregar a campa no cristianismo
significa carregar cada um a sua
própria cruz.
Mwekristuni ephomopo mwapalame ola
onnàlaka atthu ehirino ettini,
anvanya masu a Muluku,
ohinakumiha edisimu,
mene atthunaka okhaviheriwa;.
No cristianismo o calau
entende criticar as pessoas sem
religião,
que contradizem as palavras de Deus,
não oferecem o dízimo,
querem porém ser ajudadas.
Mukristu ahikhaleke nanvusa,
akhalaneke ikharari,
akhaleleke òxekura ni òkhavihera,
ahikhaleke nthalu mmirimani mwawe,
ahivanyeke malamulo a Muluku ni a
Ikereja,
akumihe edizimu kula eyakha ni mweri
O cristão não pode ser um sabotador
de enterros,
deve sentir pena, visitar e ajudar,
sem parcialidade no seu coração,
deve ser obediente aos mandamentos de
Deus e da Igreja,
ser dizimista anual e mensal.
Ephomopo mukristu ohiyale nroromelo
ni ohèntte okereja.
O calau é como o cristão que perdeu a
fé
e não frequenta a igreja.
Satana nanvusa mutokwene.
Satanás é o sabotador por
antonomásia.
Avaliação
O aforismo acerca do ephomopo assim
como todo o seu horizonte biológico desvendou toda a sua riqueza
simbólica e metafórica. O calau é verdadeiramente uma metáfora
fecunda, pode ser considerado o negativo fotográfico do sistema das
coordenadas da biosofia e biosfera xirima:
é metáfora do casamento onde a
paternidade e a maternidade são levadas aos extremos de doação e
dedicação para os filhos;
é metáfora da solidariedade social,
sobretudo nos momentos dramáticos e trágicos de doença e de morte
que atingem a família restrita e alargada;
é metáfora da maturidade do mutthu
desligado e autónomo da mãe, formula portanto uma crítica latente
ao matriarcado quando se torna matriarcalismo;
é metáfora de Deus Namuli, matriarca
verdadeira e definitiva, não provisória e transitória: do Namuli
se sai momentaneamente para lá regressar definitivamente;
é um testemunho unívoco da
centralidade da morte como evento dos eventos antropológicos e
cósmicos que nunca se pode manipular, marginalizar, tornar
insignificante;
é também no horizonte cristão um
paradigma muito original de cristologia e de ética cristã.
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