Mutthu ori nihuwa na
Muluku
A pessoa é a
muda/imagem de Deus.
Vamwerini enowa
khenahiya malepa,
nto nihuwa naya.
Cada mês a cobra não
deixa as manchas,
mas a sua muda.
Introdução
Durante a guerra civil
viajava-se sobretudo de noite para evitar encontros com os da Renamo.
Sendo assim, à noite procurava-se viajar em coluna e de preferência
ao luar para percorrer um caminho branco/visível (ephiro yottela) e
assim evitar pisar cobras. Dormia-se também no mato sem fogo para
não atraiçoar a nossa presença. Ao amanhecer uma vez aconteceu que
um dos acompanhadores assustou-se bastante, pois descobriu que eu
tinha dormido perto de uma muda de cobra. Mas logo me tranquilizou
dizendo: “Não é a cobra mas só a sua antiga pele, a cobra mesmo
não há-de estar longe, mas mesmo assim depois da muda anda doentia
e não agride. Além disso, padre, deve saber que esta é a muda da
cobra, mas nós também somos muda, sim a muda de Deus: mutthu nihuwa
na Muluku”.
A dupla explicação era
mais que suficiente não só para me tranquilizar mas também para
despertar ainda mais a minha curiosidade acerca da cobra e sobretudo
acerca do fenómeno da muda e a sua aplicação no horizonte
teológico e antropológico. Foi tarefa dos pesquisadores satisfazer
a minha curiosidade e na verdade comunicaram noções importantes que
sinteticamente apresento.
1- Premissas morfológicas e
etimológicas
Para entender o tema em
estudo é preciso antepor uma análise etimológica. Nihuwa é um
substantivo da segunda classe, a classe dos colectivos em geral.
Etimologicamente nihuwa deriva do verbo ohuwa que significa criar
crianças ou animais, fazer criação de animais, domesticar,
educar/formar/cultivar pessoa, transformar, crescer.
Na forma reflexiva
wihuwa o verbo assume sentidos mais específicos: criar-se, mudar-se,
educar-se, formar-se, transformar-se, metamorfear-se, mudar ou largar
a pele (cobras, pessoas...) e por fim despir-se.
Deste dois verbos
derivam os seguintes substantivos que sempre têm latente ou
patentemente um duplo sentido: por um lado um sentido teleológico de
novidade, de rejuvenecer, de educação, de formação, de
transformação, de crescimento em vista de uma nova vida, novo
status; por outro um sentido entrópico de resto, de sobejo, de sobra
de algo que envelheceu, que já desenvolveu a sua função mas que
tem sempre o marco arqueológico de identidade, de memória, de
fotografia autêntica.
1- Nihuwa, Ma-:
a- é a muda de cobra,
queda, desfólio, camisa antiga da cobra: o aspecto arqueológico
como o teleológico são patentes: trata-se de uma
renovação/crescimento de nova pele, de um rejuvenecimento da cobra;
b- é o grão de
amendoim que fica na terra de um ano para o outro e que é o primeiro
a germinar/nascer/crescer e a ser colhido (ekolwele): patente é o
sentido teleológico de renovação e continuação da vida, muito
latente fica o sentido arqueológico, sobretudo entrópico.
2- Nihuwo, Ma-: frango,
galo ou galinha já crescidos mas ainda jovens: também neste termo
vale o que se disse acerca de nihuwa (b): patente é o sentido
teleológico de renovação e continuação da vida, muito latente
fica o sentido arqueológico, sobretudo entrópico.
3- Muhuwo, Mi-, Muhuwelo, Mi-: cria,
criação: também para estes termos patente em modo quase exclusivo
é o sentido teleológico de formação e transformação da vida,
muito latente fica o sentido arqueológico, sobretudo entrópico.
4- namahuwa, A-: criador
de animais, educador de pessoas, pessoa que transforma o dado
arqueológico num dado teleológico renovado, maduro.
5- Namwihuwa, A-:
auto-criador, auto-transformador que renovando-se deixa sobra, resto,
muda, fotografia de si mesmo
2- Nihuwa na enowa
A muda da cobra
Com nihuwa em geral a
biosofia e biosfera xirima entende a muda, a camisa, a pele antiga
que a cobra deixa, umas delas anualmente, outras em zonas tropicais e
subtropicais como a do Niassa mensalmente. Este pormenor foi
confirmado por todos os pesquisadores e por outras pessoas por mim
questionadas, porque achava errado afirmar o ritmo mensal da muda.
Consultando também manuais ad hoc, confirma-se que em zonas quentes
como as tropicais, existem cobras que mudam a pele várias vezes no
ano.
Agora o camponês xirima
insiste que se trata de um ritmo mensal em sintonia com as fases
lunares. Com a lua minguante inicia o desfolamento da cobra, no
interlúnio a cobra está num estado doentio, não se mexe nem
agride, por fim com o novilúnio recupera todas as suas forças.
É evidente a analogia
com a mulher, a cobra é um arquétipo feminino. Significativamente
um pesquisador mencionou Gen 3, onde se fala da cobra que inicia a
sua tentação com a mulher, devido a afinidade e homogeneidade
biológica.
Além da ciclicidade
mensal da muda, os textos salientam outro aspecto: por um lado é
memória retrospectiva, é fotografia autêntica, é o resto
arqueológico da cobra, por outro patenteia uma metamorfose nova, uma
renovação de vida e de forças da mesma cobra.
Mweri wayevaka/wamalaka,
enowa enavoreiwa, enimìhuwa
mpaka orula nihuwa /nihuwalelo naya
nothene,
vakhani vakhani mahiku eviraka
mweri munyowani okhumaka enolama
elipihaka exapala aya enyowani,
Com a lua minguante, a cobra adoece,
pois inicia o processo de desfólio da
pele
até tirar toda a sua pele antiga/muda,
depois, devagar, com o passar dos dias,
com o novilúnio cura tornando-se forte
com a nova pele.
Vamwerini enowa khenahiya malepa,
nto ennavoreiwa ehiyaka nihuwa naya,
ekhalelo ya enowa enlikana ni yela ya
muthiyana,
ntoko niwalahu mbiblyani enowa ni Eva.
Cada mês a cobra não deixa as
manchas,
mas adoece deixando a sua muda.
O seu comportamento é semelhante ao da
mulher,
como se lê na Biblia: a serpente e Eva
(Gen.3).
Nihuwa wanteya wa exapala ya khalai ya
enowa,
nnahima otxentxeya/wummuwa wa erutthu
aya,
niwoko enalatta/enatthara erutthu aya.
A muda é esfolar-se da pele antiga da
cobra,
significa a mudança/renovação do seu
corpo,
pois é semelhante a ele.
Mutthu òná nihuwa na enowa
onnatthawa èraka ti enowene.
Ao ver uma muda de cobra,
a gente foge exclamando que é a
própria cobra.
Nihuwa na enowa nnalikana ni mwanene
ìhuwale,
khaninkhala ehuhu yintxipale.
A muda é semelhante ao dono que se
transformou,
não dura muito tempo/não tem
consistência.
Enowa vamwerini enimwihuwa
ehiyaka vathi nihuwa naya nri nolikana
ni enene.
Cada mês a cobra
desfola-se/renova-se/rejuvenece
deixando no chão a sua muda semelhante
a ela mesma.
Enowa yìhuwá khenètta ottai,
onavoreiwa nari khenluma.
A cobra quando se desfola, não anda
longe,
está doente nem morde.
Wihuwa otokotoko ti oyara okumi
onyowani,
ophwanya ephiro enyowani.
O desfólio maior é gerar nova vida,
é encontrar um novo caminho.
Enowa yìhuwa khentthikela owani wa
khalai.
A cobra quando se desfola,
não volta para a toca antiga.
2- Nihuwa ni mMutthu
A muda e a Pessoa
Já só a nível
biológico, a cobra resultou numa metáfora antropológica da mulher
devido à ciclicidade mensal das mudas. Provavelmente esta afinidade
levou a biosofia e biosfera xirima a assumir a metáfora nihuwa como
paradigma aplicável a todo o plenisfério antropológico e ao
horizonte teológico.
Em primeiro lugar,
nihuwa patenteia uma das três componentes do mutthu, a sua sombra
(eruku), a parte intermédia entre o corpo e o espírito, a parte
ponte que junta as duas margens, sendo imagem e fotografia autêntica
mas velada de ambas: não há sombra sem corpo nem há sombra sem
espírito, em suma, nihuwa é o negativo fotográfico do corpo e do
espírito ao mesmo tempo.
Por esta razão, a
nihuwa antropológicamnte tem ciclos e fases próprias, onde o mutthu
deixa parte do passado e se dispõe a dar saltos qualitativos de
renovação e de rejuvenecimento como acontece nas iniciações, nos
ritos terapêuticos, nas adversidades e calamidades da metereologia
humana até à última fase, à última transformação que é a
morte, entendida sempre como desfolio mas também como vida nova e
definitiva do mutthu no útero materno de Deus Namuli.
2.1 Nihuwa na mutthu - A muda do
mutthu
Nihuwa emp’aya ti erutthu,
nihuwa nnalikana ni eruku,
nnalikana ni ekhaikhai ya munepa enene.
A casa da muda é o corpo,
a muda é semelhante à sombra,
igual à imagem original do espírito
mesmo.
Eruku nihuwa na mutthu,
mutthu òná eruku awe asuweleke
wera kònale munepa aka.
A sombra é a muda/imagem da pessoa:
se alguém vir a sua sombra,
deve saber que viu o seu espírito.
Makholo anèra: nihuwa nnakhuma
vekhaikhaini.
Os antepassados dizem:
a muda/sombra vem da verdade,
(é imagem/fotografia da verdade).
Mwana ayariwaka onnarapa mahi,
onahima ovinxa nihuwa noyaraniwa.
A criança quando nasce toma banho
significa tirar-lhe a muda do
nascimento.
2.2 Wihuwa, ohuwa wa mutthu
Metamorfoses do Mutthu
Mutthu watta mota mihuwelo awe.
A pessoa passa por muitas
mudas/transformações.
Wihuwa womalihera wa mutthu ti okhwa
wawe
ohalaka murutthu nihuwa nawe.
O transformar-se último da pessoa é a
sua morte,
ficando o cadáver como a
muda/resto/sobra/sobejo dele.
Wihuwa wa erutthu annahala
makhuva/murutthu.
Na transformação do corpo ficam os
ossos/cadáver.
Wihuwa ovinxa enamwane
ntoko ovoreiwa ni olama,
ntoko okhwa ni ovinyerera.
Transformar-se é tirar a
criancice/infância,
é adoecer e sarar, é morrer e
ressuscitar.
Wihuwa wiyara,
oyara okhala itthaya sinkhwa
okona ohusera okhwa,
okhwa okona womalela,
Transformar-se é gerar-se,
gerar é ser terras mortais,
dormir é aprender a morrer,
morrer é dormir plenamente.
Mukalampa wa omwene wihuwa,
omwene nipatxi onohiyeraniwa,
A sucessão do rei é
criar-se/rejuvenecer-se,
é como o casaco que se deixa para
outros.
Wihuwa olikana/olatta.
Auto-transformar-se é
igualar-se/imitar-se.
Wàhuwa anamwane wihuwa/wipittikula.
Criar as crianças é elas
transformarem-se,
/criarem-se/mudarem-se.
Makholo yèra: an’ihu yamuyará
mwana,
hiyo tho nòhìhuwa vamosá ni yawo
Os antepassados diziam:
se os nossos filhos gerarem filhos,
nós também nos criamos, crescemos
junto com eles.
Wineliwa wihuwa wa mutthu.
niwoko owineliwa onnahiya sa khalai.
A iniciação é a renovação da
pessoa,
porque o iniciando deixa o passado.
Wihuwa orapa/omira murette.
Transformar-se/renovar-se é tomar
banho/remédio.
Mutthu wihuwa wawe watta mota:
ovoreiwa, okhwa:
nto okhwa nnimwettahuno
wihuwa waya okumi tho.
A transformação da pessoa tem muitas
formas
como adoecer e morrer,
mas a morte com a qual andamos,
a sua transformação é reviver.
Wihuwa ekhove ya Muluku Namuli,
wihuwa emoni /epheyo ya Muluku.
A muda é a cara/fotografia/memória de
Deus Namuli,
é a saudação, o vento (eco) de Deus.
Vathi mutthu ori eruku/nihuwa
na yeyo onrowaiye okhala o Namuli
munepene.
Na terra a pessoa é a sombra/muda
daquilo
que será no Namuli como espírito
completo.
3- Nihuwa ni
Muluku
A muda e Deus
Em segundo lugar, a
nihuwa antropológica é reflexo não só da estrutura intrínseca
trinária do mutthu, mas é também reflexo transcendental de Deus. O
mutthu é memória, imagem, gravura da imagem que Deus lhe doou e
lhe deixou ao momento de o gerar.
Os textos produzidos
pelos pesquisadores são numerosos e mesmo nas repetições
demonstram desenvolver um tema bem conhecido, bem entendido e bem
vivido a partir do berço autêntico da própria biosofia e biosfera
cultural. Podem até despertar a duvida de serem paráfrases do texto
bíblico do Gen 2, mas a metáfora nihuwa, catalizador e denominador
comum de tantos textos, não remete a nenhum passo bíblico.
A riqueza, a vivacidade
dos textos atraiçoa pelo contrário a presença de um caudal
autêntico e genuíno da antropologia e teologia xirima. Raramente os
pesquisadores demonstraram tantas formulações e variantes do mesmo
tema. A teologia e religiosidade xirima não precisa do texto bíblico
veterotestamentário e neotestamentário para proclamar e professar
que o mutthu é muda/imagem de Deus, que leva em sí a marca que Deus
lhe imprimiu no dia que o fez sair do seu útero materno. Se esta
marca é especial e superlativa no horizonte antropológico, não
falta em nenhum ser do reino animal, vegetal e anorgânico. A muda
/imagem de Deus namúlico, cobra matriarcal, está bem imprimida e
visível em todo o horizonte cósmico.
Muluku Namuli pwiyamwene
ti enowa enìhuwa
kahiyene vayakhani nari vamwerini
vothene
mene ohiyu ori wothene,
nilepaka ni tho nehelaka nihuwa nawe
mwa itthu sothene ompattuxaiye.
Deus, Namuli matriarca, é a cobra que
se desfola
não todos os anos nem todos os meses,
mas todas as noites,
escrevendo e imprimindo a sua
muda/imagem
em todas as coisas que gera.
Muluku enowa etokwene yo Namuli
àhiya ekwanihero awe vanihuwani vawe,
eyo tiyo, mwa sopattuxiwa sothene,
nto vantxipalexa mwa mutthu
ampattunxaiye.
Deus, a grande cobra do Namuli,
deixou a sua plenitude na sua
muda/imagem,
isto é, em todas as criaturas,
mas particularmente no mutthu que
gerou.
Nihuwa na Muluku ti eruku ni munep’awe
wene.
A muda/imagem de Deus é mesmo
a sua sombra e o seu espírito.
Nihuwa na Muluku murim’awe wene,
khannithowa woniwa ni oromoliwa.
A muda de Deus é mesmo o seu coração,
não falta ser vista e
mencionada/invocada.
Muluku onnakuxa nihuwa/eruku awe
onèttano vothevene mmatatani.
Deus leva a muda/sombra dele
andando em toda a parte com ela tendo-a
nas mãos.
Muluku àhela vamutthuni nihuwa nawe,
sothene sinèreya vathi vava
sirino nihuwa na Muluku Namuli.
Deus pôs a sua muda/imagem na pessoa,
tudo o que acontece aqui na terra
tem a gravadura de Deus namúlico.
Mutthu nihuwa na Muluku
niwoko mutthu okhumale
mwa Muluku yowene pwiyamwene
ayarenle sopattuxiwa sothene mwa ekhove
awe
alepaka’mo ekhove awe, ahiyaka’mo
nihuwa nawe.
A pessoa é a muda/imagem de Deus
porque saiu de Deus mesmo,
matriarca que gerou tudo e todos
imprimindo a sua imagem e deixando a
sua muda.
Mutthu ori nihuwa na Muluku
ahiyalaiye vathi vava vamosá ni hiyo,
Muluku mwanene akhaleke wirimu.
A pessoa é a muda/imagem de Deus
que deixou aqui na terra connosco
enquanto ele mora no Céu.
Mutthu nihuwa na Muluku,
niwoko vopatxera amupankaka mutthu
awehale erutthu awe.
A pessoa é a muda/fotografia de Deus,
porque no começo quando fez a pessoa,
ele olhou ao seu
corpo/essência/identidade.
Òviye nihuwa na Muluku,
omòviye Muluku mwanene.
Quem tem medo da muda/imagem de Deus,
tem temor mesmo perante dele.
Onatthukaiye Muluku,
nihuwa nawe nnatthuka yeyo.
O que Deus amarra,
também a sua muda/imagem amarra.
Otthekeru, khonawerya otxipiha
nihuwa na Muluku mmurimani mwá.
Mesmo pecando, tu não apagas
a muda/imagem de Deus no teu coração.
Mutthu onaramusa ettini,
onnanariha nihuwa na Muluku àkhenlaiye.
A pessoa que despreza a religião,
estraga a muda/imagem de Deus que
recebeu.
Wakhwá, Muluku onnìtthana nihuwa
nawe,
anyi, mokhwani Muluku onnakuxa nihuwa
nawe,
okhalaka vathi vava murutthuru á
pahi..
Na tua morte, Deus chama a sua
muda/imagem,
sim, no caso de morte Deus leva a sua
muda/imagem,
ficando aqui na terra só o teu
cadáver.
Khonèriwa: kamònale Muluku,
oriki wònalene nihuwa nawe.
Não se diz: se eu visse a Deus,
se já viste a sua muda/imagem.
Nihuwa na enowa khannirera niwoko
noluma.
nihuwa na Muluku khannòpiha nari
khannòpopiha.
A muda da cobra nunca é agradável,
porque morde,
enquanto a muda/gravura de Deus
nunca é perigosa nem ameaça.
Mwettelo w’axirima othene àsuwela
wera mutthu ori nihuwa na Muluku.
Todos os xirima conforme a sua cultura
sabem
que a pessoa é a muda/imagem de Deus.
Mutthu nihuwa na Muluku
okhala wera onlikana ni yowene,
ti muluku a vathi, muluku mukhani,
ti ekwanihero etokotoko ya Muluku,
omuluku onakhala vamutthuni.
A pessoa é a muda/imagem de Deus.
porque é parecido com ele mesmo,
é o deus da terra, o deus pequeno,
o maior complemento de Deus,
a divindade encontra-se na humanidade.
Nihuwa na Muluku ninnawerya opanka
itthu sotikiniha,
Muluku àpattuxa itthu
wera nihuwa nawe nnilamuleke
ni nnimwaleke vothevene.
Mutthu ti mutokwene a sopattuxiwa
sothene,
t’ovahale masina wa sothene,
mowiwana ni nihuwa sàkhenlaya.
A muda/imagem de Deus
consegue fazer coisas maravilhosas.
Deus as criou para que a sua
muda/imagem
mandasse e resplandecesse em toda a
parte.
O ser humano é a maior de todas as
criaturas,
deu nomes a todas elas
em conformidade à muda/imagem que
receberam.
Mutthu nihuwa na Muluku,
niwoko mutthu t’onlikana ni yowo,
ti elataretto ni ekwanihero awe
etokotoko
wopwaha sopattuxiwa sawe sothene
sikina:
mutthu ti mutokwene a valapo.
okhalano ikuru sintxipale.
t’onùpuwela vantxipale.
O mutthu é a muda/imagem de Deus,
porque é semelhante a ele,
é a sua fotografia e seu complemento
maior
mais que todas as outras suas
criaturas:
o mutthu é o cabeçário do mundo,
dispõe de muitas forças e de muitos
ideias.
Mutthu nihuwa nokwanihera na Muluku
niwoko ori muthiyana ni mulopwana,
àhiyeraka siso nwiya nawe nene.
O mutthu é a muda/imagem completa de
Deus
porque é mulher e homem,
deixando-lhes assim o seu mesmo
respiro.
Wihuwa wa Muluku opattuxiwa wa mwana.
Muluku mwaná:
khavo oyariwe ahikhalano nihuwa na
Muluku.
O mudar-se de Deus é o nascimento da
criança.
Deus é criança:
ninguém nasceu sem a muda/imagem de
Deus.
Muluku òkhalano ehuhu yothokorora
nihuwa,
kula mutthu òkhalano eyakha awe
yowakhelela.
Deus aguarda a altura para a sua muda,
cada pessoa tem o seu ano para a
receber.
Nèttelá sa Muluku nihuwa nawe opisa
othama.
Ehuhu yaphiyerá, Muluku onnakuxa
nihuwa nawe nnotthikela
mmurupani/muniphwanyani mwawe mo
Namuli.
Seguindo as normas de Deus,
a sua muda/imagem demora a sair de nós,
na altura própria Deus leva-a,
a sua muda/imagem regressa
ao seu bolso/útero no Namuli.
Ekhove ya Muluku nihuwa nawe
mmutthuni,
tivanto mutthu
onamulapelaiye/onanvekelaiye Muluku.
A cara de Deus é a muda dele na
pessoa.
por isso essa o adora e o invoca.
Nihuwa na Muluku ari malaya awe,
vowariha mutthu onnatxentxa ekum’awe
akuxaka ekumi enyowani.
A muda de Deus é a camisa dele,
ao vestí-la o mutthu muda a sua vida,
pegando num caminho novo.
Mutthu nihuwa na Muluku
niwoko mutthu nikhurumela ni exapala ya
Muluku,
wona wi Muluku t’onvahale ephattuwelo
awe,
niwoko Muluku onnètta n’atthu.
niwoko mutthu ori ethoni ni munepa awe.
niwoko Muluku onòneya vamutthuni,
niwoko Muluku muthato wa mutthu.
niwoko miteko sa Muluku t’onvara
mutthu,
niwoko ikano sa Muluku sinimwèttiha
mutthu,
niwoko Muluku t’omusuwenle mutthu,
niwoko mutthu t’onìwa masu a Muluku,
niwoko khavo ohinamwasa Muluku,
niwoko Muluku khanimuhiya mutthu
ahawaka,
niwoko Muluku onaremera ni mutthu,
niwoko mutthu onùluma ni Muluku
vamapuro mothene,
niwoko movelavelani khavo onamuramusa
Muluku.
niwoko mutthu onnapuha wa Muluku.
niwoko Muluku ti murette ni murettele
wa mutthu
O mutthu é a muda/imagem de Deus,
porque ele é a nódoa e a pele de
Deus,
porque é Deus que lhe deu a
existência,
porque Deus anda com o mutthu,
porque o mutthu é a cara e o espírito
dele,
porque Deus é visível no mutthu,
porque Deus é a ponte do mutthu,
porque as obras de Deus são as do
mutthu também,
porque as normas de Deus guiam o
mutthu,
porque Deus conhece bem o mutthu,
porque o mutthu escuta a palavra de
Deus,
porque não há ninguém que não
procure a Deus,
porque Deus não deixa o mutthu no
sofrimento,
porque Deus é rico com o mutthu,
porque o mutthu fala com Deus em toda a
parte,
porque na necessidade ninguém despreza
a Deus,
porque o mutthu goza em Deus,
porque Deus é remédio e paz do
mutthu.
Mwan’aka, omàle kòlele
wera mutthu nihuwa na Muluku mwanene
elapo.
okhala nihuwa na Muluku mutthu ori
vokhwani.
Meu filho, cala-te, vou te informar
que a pessoa é a muda/imagem de Deus,
para ser tal a pessoa é destinada a
morrer.
Sinanisuweliha wera mutthu ori nihuwa
na Muluku
siri minepa sèraka:
mutthu ti nihuwa na Muluku kwekwe.
Os que nos informam
que a pessoa é a muda/imagem de Deus
são os espíritos que afirmam:
a pessoa é a muda de Deus para sempre.
Muluku namahuwa/marukunuxa/mukakhari.
Deus é criador, virador, raíz.
Omuhuwa mutthu omuhuwa Muluku.
Criar/educar a pessoa é criar/dilatar
Deus.
Muluku Namuli nikhumalahu’wo,
Muluku t’opatxenre wihuwa.
vowayara atthu mwa nihuwa nawe,
oyariwa olatta.
Deus é Namuli donde saímos,
Deus é que começou a transformar-se,
gerando todos conforme a sua
muda/imagem:
nascer é imitar/copiar.
Wihuwa wetta ni atthu,
niwoko Muluku opatxenre okhala
va sopattuxiwa sawe sothene ni
vamutthuni,
Ephattuwelo khenakhummwa.
Muluku khapá: empawe eri vamutthuni:
Transformar-se é andar com as pessoas,
porque Deus é que começou a viver
com todas as suas criaturas e com as
pessoas,
da origem não se sai:
Deus é como o cágado:
a sua demora é a humanidade.
Khole khonamuyara tthupili,
nto Muluku t’onamuyara mutthu
mwa nihuwa nawe.
O macaco não gera macaquinho/chico,
pelo contrário Deus gera a pessoa
conforme a sua muda/imagem.
4- Nihuwa ni Ekristu
A muda e a Fé cristã
A iridescência
simbólica e metafórica da muda da cobra não se esgota nem se apaga
entrando no horizonte do Kerigma cristão. Como imagem autêntica
deixada pela cobra, o paradigma nihuwa consegue focar bem e
exemplificar o centro da fé cristã que é a encarnação de Deus no
seu Filho Jesus, cara e imagem primária de Deus na história da
salvação. Nihuwa é uma apropriada metáfora cristológica, Jesus é
imagem única de Deus, desfigurada na cruz por imolação, perenizada
na Eucaristia.
Além de ser um
paradigma cristológico, a metáfora nihuwa torna-se também
paradigma que estimula a fé viva e simples do cristão xirima na SS.
Trindade. Ele não recua de tentar de patentear simbolicamente a vida
interna trinitária à luz da metáfora em estudo. Deus é uno e
único, mas na dinâmica de três mudas/reflexos/caras recíprocas.
Por fim o tema em estudo
recebe a sua aplicação também no sector eclesial e sacramental.
Nihuwa ni Yesu/Oraru Wottelaxa
Muda e Jesus /SS. Trindade
Mwekristuni nihuwa na Muluku
ti Yesu vantxipalexa, mopoli àtthu
othene.
No cristianismo a muda/imagem de Deus
é sobretudo Jesus, o salvador de
todos.
Muluku òmuyara Mwan’awe Yesu Kristu.
Yesu orino nihuwa nawe nokwanihera.
Deus gerou Jesus Cristo, seu Filho.
Jesus possui toda a muda/imagem de
Deus.
Nihuwa nopatxera na Muluku ti Yesu
kristu,
Ti yowo onisuwelihale
wera hiyo nri nihuwa na Muluku Atithi
A primeira muda/imagem de Deus é Jesus
Cristo.,
é ele que nos fez conhecer
que somos muda/imagem de Deus Pai.
Yesu àhìhuwa vamuttandani
niwoko na sottheka sahu.
Jesus desfigurou-se na cruz
por causa dos nossos pecados.
Makholo anèra: nihuwa ti olatta wa
Muluku.
Yesu Kristu ti nihuwa wa Muluku,
amulantte Muluku Atith’awe anene,
mirirya sawe sothene ti mirirya sa
Muluku.
Os antepassados afirmam:
a muda é imitação/semelhança de
Deus:
Jesus Cristo é a muda/imagem de Deus,
imitou a Deus mesmo, seu Pai,
todos os seus milagres são os milagres
de Deus.
Yesu Kristu àhiya nihuwa nawe
mokaristiyani.
Jesus Cristo deixou na Eucaristia
a sua muda/imagem/memória.
Mwana ni Munepa Wottela
nri nihuwa nnakwanihera Oraru Wottela.
O Filho e o Espírito Santo
são a muda/imagem/reflexo pleno de
Deus Pai.
Atithi, Mwana ni Munepa Wottela,
Muluku ori mmosaru, mahuwa awe araru
O Pai, o Filho e o Espírito Santo
é Deus uno mas em três
mudas/imagens/reflexos.
Mwekristuni Munepa Wottela
nihuwa na Muluku Atithi ni Yesu Kristu.
Conforme a fé cristã o Espírito
Santo
é a muda/imagem de Deus Pai e de Jesus
Cristo.
Nihuwa na Munepa Wottela
nnakhala vamurimani wa mutthu.
A muda/imagem do Espírito Santo
vive no coração do baptizado.
Mwa makholo awe mutthu nihuwa na
Muluku,
vano mwekristuni nòleliwa wi
Muluku t’okwanihera onitaphulela
miruku seiya sothene sa makholo ahu
vanirumihalaiye hiyo Yesu Kristu,
Mwan’awe,
nihuwa nawe nomalela nokwanela ni
nokwanihera
vamosá ni savaha sothene sa Munepa
Wottela.
Para os nossos antepassados
a pessoa é muda/imagem de Deus.
Agora na fé cristã fomos informados
que Deus acabou de nos explicar todo o
sentido
desta afirmação dos nossos
antepassados,
enviando-nos o seu Filho, Jesus Cristo,
sua muda/imagem plena, definitiva e
ultimante,
junto com todos os dons do Espírito
Santo.
Nihuwa ni Ekereja/Ekristu
Nihuwa e a Igreja/Ética cristã
Watta w’akristu wihuwa wa ekereja.
A multidão dos cristãos é a cria da
igreja.
Erutthu empa ya nihuwa na Muluku,
Ekereja empa ya nihuwa na Yesu
vothevene ni va maithoni va miloko
sothene.
O corpo é a casa da muda/imagem de
Deus.
A igreja é a casa da muda/imagem de
Jesus Cristo
em toda a parte e perante todos os
povos.
Mutthu ori nihuwa na Muluku
namwi yottheka ya Adamu ni Eva, makholo
awe.
A pessoa é a muda/imagem de Deus,
apesar do pecado de Adão e Eva, seus
antepassados.
Mutthu òttiya maru,
onnatthara nihuwa na satana.
A pessoa renitente segue a muda/imagem
de Satanás
Akristu othene arino mmurimani mwaya
nihuwa na Muluku mmosaru ni Oraru
wottexa
yakhenlaya nihiku na obatizo aya.
Todos os cristãos têm no seu coração
a muda/imagem de Deus uno e trino
que receberam no dia do baptismo.
Obatisiwa wihuwa wa ekereja,
orimwihuwa mwa Yesu Kristu,
ti okhwa ni ovinyerera mwa Yesu Kristu,
ti oyariwa wanaveli, ti wineliwa
ekristu
orukunuxa murima ni otthare ephiro ni
ekum enyowani.
Ser baptizado é ser criado pela
igreja,
é recriar-se em Jesus Cristo,
é morrer e renascer nele,
é renascer pela segunda vez,
é ser iniciado na fé cristã,
é converter-se e seguir novo rumo de
vida.
Wihuwa ohiya sa khalai sa satana
ni otthara sa nanano sa Evanjelyu.
Transformar-se é deixar o passado mau
de Satanás
e seguir o presente bom do Evangelho..
Ohinàttittimiha atithi ni amay’awe,
onnìva nihuwa naya yavahiwaya ni
Muluku.
Quem não respeitar os pais,
mata a muda/imagem de Deus que
receberam.
Hiyo niweherenre wihuwa womalela
nihiku nomalihera nokhwa wahu.
Nós esperamos a transformação
definitiva
no último dia da nossa morte.
Alavilavi annatxipiha nihuwa na Muluku.
Os maus ofuscam a imagem de Deus
Oyara wona ni wonihera nihuwa nawe
Muluku.
Gerar é ver e fazer ver a muda/imagem
de Deus.
Apreciação crítica
Todos os axiomas em
estudo assustam pela riqueza recôndita que guardam. Também no caso
da muda da cobra o olhar do vidente xirima soube descobrir e formular
oralmente assuntos e problemas que atormentam desde sempre a procura
e a reflexão filosófica e teológica. Quem é o mutthu? Que
definição exaustiva encontrar?
Como de costume, o
xirima, o ser humano da “primeira palavra”, da percepção
imediata das coordenadas da vida, não indugia em encontrar imagens,
paradigmas, metáforas que não esgotam o tema mas também não o
eludem, pois animam a ir mais em profundo, mais além. Alérgico por
natureza às abstracções, contemplando o fenómeno da muda da
cobra, a biosofia e biosfera xirima demonstra dutilidade e esperteza
em empregar tal fenómeno às polaridades básicas como Muluku-Mutthu
e Mutthu-Muluku. O ser humano é a imagem, a gravação, o negativo
fotográfico de Deus. O mutthu é o tipo, Muluku é o protótipo. Com
extrema simplicidade oral e beleza narrativa o xirima encerra e
sintetiza montanhas de livros de inquietação humana.
Como os pesquisadores
são cristãos, pode surgir a dúvida que as suas formulações são
reduplicados do Gen 1-3. Mas observou-se durante a analise do axioma
que nenhum passo bíblico acena minimamente à muda da cobra. Além
disso e ainda mais, se o texto bíblico fala que Deus criou o ser
humano à sua imagem e semelhança, não se preocupa minimamente em
explicitar, exemplificar e aclimatizar tal afirmação no mundo
imagínico, simbólico e metafórico dos adressados como pelo
contrário a biosofia e biosfera o faz com desenvoltura, até com
abundantia cordis.
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