segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Deus passa por aí à noite (via Láctea y Cruz del mundo)

Nlelamaka nri muttanda wa elapo,
Nlungulungu t’oviraiye’vo ohiyu.
A Via Láctea é a cruz do mundo,
é Deus que passa por aí à noite.

Introdução
Durante a guerra civil viajava-se de preferência de noite quer para evitar o calor do dia quer também para evitar encontros desagradáveis com os Renamo. Sobretudo no período da seca quando o céu estava sempre limpo, as noites eram de beleza única com as estrelas no céu reunidas nas respectivas constelações e estas por sua vez carregadas no único carro da Via Láctea. Era um coro polifónico de ritmo, timbro e eco infinito. Caminhar ou pedalar acompanhado por esta harmonia celestial não era por nada pesado, chegava-se ao amanhecer, ao despontar das estrelas matutinas sem quase o perceber. Às vezes cansados, preferíamos descansar um bocado depois de termos ultrapassado o rio Nikamiso., dormíamos umas horas e chegando a altura das aves começar a cantar, os meus dois acompanhadores, Agostinho Jemusi e Vicente Ferreira, me despertavam dizendo:
Tthuka-miritti òhòneya, bambo.
nlelamaka mulako/muttanda wa elapo
anyi, Nlungulungu Namuli t’oviraiye’vo ohiyu.
A estrela matutina apareceu, padre,
a Via Láctea, porta/cruz do mundo,
sim, Deus Namuli já passou por aqui à noite
Desejando eu conhecer o que pensava a biosofia e biosfera xirima acerca da Via Láctea, dei este tema aos os pesquisadores do Centro de Investigação. Apresento aqui a síntese das suas composições.

1- Morfologia e étimo
Do ponto de vista morfológico o substantivo em exame apresenta-se com umas variantes:
- nlemaka, ou nreramaka, da segunda classe, no plural malelamaka/mareramaka;
- mulelamaka ou murelamaka com o plural na prima ou na terceira classe: alelamaka/milelamaka, areramaka/mireramaka.
Etimologicamente parece bastante evidente que nlelamaka seja uma composição de duas palavras, uma derivativa de olela emaka: anunciar o mar, o amanhecer da luz aural. De facto a biosofia e biosfera xirima considera a Via Láctea como um fenómeno estelar que ao anoitecer sai ou provem do mar e ao amanhecer acaba ao nascer do sol no mar.

Nlelamaka nnahima olela/ohulela emaka,
ohula makhiya oxa wera vàhòxa.
Makholo yànawerya osuwela oxa
niwoko na nlelamaka, nàri ewora aya.
Nlelamaka nnarukurera emaka
onakhumaya’mo mpaka otthikela weiwo.
Tiva onèriwaya olela emaka.
Nlelamaka significa anunciar o mar/abrir-se do mar,
abrir o cadeado da aurora porque amanheceu.
Os antepassados conheciam o amanhecer
por causa da Via Láctea, era o seu relógio:
Nlelamaka dá voltas ao mar,
sai do mar até regressar lá,
anda com a agua/mar,
por isso é dita nlelamaka.

Makholo yònaya ohiyu okhumaka omaka,
yàvaha nsina na nlelamaka.
Os antepassados vendo a noite sair do mar,
deram-lhe o nome de Nlelamaka (anúncio do mar).

2- Nlelamaka: mululo/muttanda
A Via Láctea: tranca/cruz cósmica
O vidente grego ao contemplar no verão a imensa galácia de estrelas espalhadas sem número no céu imaginou que a deusa Juno, zangada com o seu bebé Hércules, lhe tirou a mama da boca e, deixando cair gotas de leite, formou a Via Láctea, latim que significa via do leite.
O vidente xirima ao contemplar no verão a mesma galácia de estrelas imagina ver uma imensa porta encostada a dois paus, cruzados por um tranca ou cruz transversal, de maneira que resulta uma porta segura que se fecha bem à noite para ao amanhecer abrir-se ao oriente, ao mar, ao nascer do sol. Daquela porta sai e àquela porta regressa o mundo solar. Acontece como um rio que nascendo nos planaltos/montes (otá) desagua as águas nas baixas lá no mar (ohittó), ao encontro do sol levante, do dia e da vida solar, para depois elas regressarem e fecharem-se no céu, atrás da porta da Via Láctea. O mutthu/pessoa fica e vive imerso nesta ciclicidade cósmica, de noite seguro e bem defendido acochenchado no berço ou transportado no carro do Nlungulungu namúlico que cada noite aparece vindo do mar, do oriente, enquanto que de dia o mutthu se realiza seguindo a luz e o caminho do sol.
Por fim, o xirima confessa que perante o fenómeno extraordinário da Via Láctea a sua imaginação se esgota e a sua compreensão fica sempre reductiva, é come se se encontrasse perante o monte Namuli, onde se escondem e se guardam os segredos e os mistérios do seu passado, presente e futuro.

Nlelamaka ti mukhora/mulako mutokwene wirimu
wophitera miri mili sowikamanyiwa ni mululo,
siso enapankiwa enerero ya muttanda.
Nsele nle nnawala phama sene,
nisunkaka ohiyu empa ya mutthu
ni tho olumwenku wothene,
mpaka ovinxiwa oxiye, nsuwa nikhumaka.
Makholo ohiyu yàroromela
mulako/mululo/muttanda ole,
wari wakiha wa ekumi aya
A Via Láctea é uma imensa porta no céu
encostada a dois paus cruzados por uma tranca/cruz,
de maneira que formam o sinal da cruz,
Aquela porta fica bem fechada,
à noite defendendo bem
a casa do mutthu/pessoa e todo o mundo,
até ao amanhecer abrir-se ao nascer do sol.
Nas noites os nossos antepassados
confiavam muito naquela porta/tranca/cruz,
era a defesa das suas vidas.

Nlelamaka muttanda wa elapo,
niwoko nnakhuma epatxenre elapo mpaka ekisenraya,
ti vanto nnalipihaya elapo,
wona wi etthu yotekiwa
wohikhala muttanda ole khenlipa.
Ti vanto nlelamaka nnikwanelaya
olipiha olumwenku wothene,
nri elipihero/mululo aya.
A Via Láctea é a cruz do mundo,
porque sai donde o mundo começou e terminou.
Por isso o fortifica, pois tudo que é feito
sem aquela cruz, não fica forte.
É por isso que a Via Láctea é suficiente
para fortificar todo o mundo, é a sua tranca.

Nlelamaka muttanda wa elapo.
Nlelamaka enenero yokawanyiha elapo.
Elapo enakawanyeya ipari pili:
ohiyu wa mweri ni othana wa nsuwa,
otá ni ohittó ntoko moloko.
A Via Láctea é a cruz do mundo.
é sinal que manda separar o mundo,
separável em duas partes:
a noite lunar e o dia solar,
a parte superior e a inferior como um rio.

Nlelamaka nnalikana ni mwako Namuli,
niwoko watta sinapithiyaya.
Wona nlelamaka okhweya,
mene nnavila otaphulela.
Ya muholo eri withela nlelamaka.
Nlelamaka khannatxentxeya,
mwa yeyo khannavariwa mukalampa.
O monte é como a Via Láctea,
porque esconde muitas coisas.
Ver a Via Láctea é fácil, mas custa interpretá-la,
pois o futuro está além dela,
nunca muda e por isso não tem sucessão.


3- Nlelamaka ni ihuhu saya,
A Via Láctea: relógio diurno e estacional xirima

Os conhecimentos astronómicos da biosofia e biosfera xirima são bastante limitados, contudo são certos. O vidente xirima observando a variedade de posição que a Via Láctea ocupa no céu durante o ano, conseguiu ver aí um seu relógio diário por um lado para o anoitecer e amanhecer do novo dia e, por outro, um relógio estacional metereológico que lhe indica as estações principais do ano: a estação das colheitas no verão frio (elimwe yorirya) e a estação das queimadas do verão quente (elimwe yoviha) em vista do novo ano, das novas chuvas, do renovado trabalho agrícola.

Erimu yothene ennìla ohiyu
ni ennaxa oxixelo ni nlelamaka.
Todo o céu anoitece à noite
e amanhece de madrugada com a Via Láctea.

Nlelamaka eri etthu yottela enakhuma ohiyu.
nnasuweliha wila ni oxa,
nnòneya ohiyu ni vaxaka ninnapittukuwa,
khannètta othana, nnalakaseya ni nsuwa.
A Via Láctea é algo luminoso que sai à noite,
faz conhecer o anoitecer e o amanhecer,
vê-se de noite e ao amanhecer transforma-se,
pois não anda de dia, desaparece com o sol.

Nlelamaka nnahima wila ni oxa ya elimwe ni ya eyita:
ehuhu ya mulala nnavira okhwipi, nikhalaka nothetemana mono wolopwana nnahimaka mulala, ehuhu ya sohepha, eri ehuhu yorirya; elimwe yoviha nnavira eriyari. Yawehà nlelamaka nikhumelaka mono wothiyana, makholo vaxaka, annasuwelihiwa wi yòphiya ehuhu ya moro, ehuhu yohawa ni ya etala, ehuhu yovara miteko sowoma, ehuhu yowasa ematta yorera, ehuhu ene yela osulu ohiyu nnavira nlelamaka, othana vathi moro.
A Via Láctea indica o tempo da seca e da chuva: no tempo das colheitas passa pela margem, inclinada à direita, anunciando o tempo das colheitas no tempo frio, enquanto que no verão quente passa no meio. Ao vê-la sair pelo lado esquerdo, ao amanhecer, os antepassados alegram-se, pois ficam informados que chegou o tempo do fogo/das queimadas, o tempo do sofrimento e da fome, o tempo de trabalhos duros, mas também o tempo de procurar uma boa machamba. Neste mesmo tempo em cima, de noite, passa a Via Láctea, enquanto de dia, na terra, passa o fogo.

Nlelemaka ti ovinyerera wa sotxa,
nnaruha murettele,
Mpuwa mwa makholo ahu nlelemaka
nnònihera oruweriwa wa sotxa,
vowona yànahakalala niwoko na sotxa sinyowani,
nlelamaka ni xapi onònihera eyotxa.
A Via Láctea é a aparição dos cereais, traz paz.
Para os nossos antepassados a Via Láctea
anuncia a produção da comida,
ao contemplá-la alegravam-se pelas primícias,
a Via Láctea é o abelharuço que mostra a comida.

Nlelamaka ti enenero yotthula epula.
Epula yakhuvelaka
namalima onopatxera wireherera.
Itthu iya siri ikaratta sa Muluku
wona wi Muluku khanùluma ni eyano.
A Via Láctea é o sinal do início da grande chuva.
Quando se aproxima a chuva,
o camponês começa a preparar-se.
Estes sinais são as cartas/mensagens de Deus,
pois Deus não fala com a boca.

Nlelamaka nnahima elimwe yoviha yokhuvela.
murummmwa a Muluku
onalaleya oxa wa moro ni wa imatta,
kharumeya a namalima.
A Via Láctea anuncia que o verão quente está próximo,
é a mensageira de Deus que anuncia a chegada
do tempo das queimadas e das machambas,
é a servente do camponês.


4- Nlelamaka -- nsuwa, mweri ni itheneri
Nlelamaka -- Muluku ni Minepa
A Via Láctea e o sol/lua/estrelas
A Via Láctea e Deus e os espíritos
A Via Láctea aparece ao anoitecer vindo do mar em concomitança com o desaparecer do sol e desaparece com o regresso do sol ao amanhecer. Trata-se obviamente de uma polaridade alternativa, por um lado a Via Láctea ilumina o horizonte namúlico, nocturno, lunar, feminino e, por outro, o sol ilumina o horizonte diurno, masculino. A Via Láctea sendo fenómeno nocturno, é tempo de Deus, tempo lunar, tempo feminino, tempo que fecha o tempo solar, que é o tempo antropológico, introduz o tempo teológico e prepara um novo dia, um novo tempo de mutthu ao amanhecer.
A Via Láctea é também para a biosofia e biosfera xirima um conjunto de estrelas que em coro e ao uníssono com Deus namúlico sinergético com os seus intermediários percorre cada noite a abobada do céu. Neste sentido a Via Láctea supera a força metafórica da lua e do sol. È Deus mesmo namúlico mãe e matriarca junto com os seus intermediários/espíritos que visita os seus filhos, que cuida de tudo o que gerou, sem excluir a sinergia do mutthu, pois mesmo de noite o olumwenku/mndo e o mutthu/pessoa não ficam totalmente na escuridão, mas a Via Láctea os consegue ainda alumiar.


Nsuwa Sol

Nlelamaka nnapatxera woneya nsuwa nnelaka
ni nnalakaseya nsuwa nikhumaka,
t’onahima wi wòhòxa.
Wetta wa nlelamaka onarenttela wetta wa nsuwa:
nsuwa nnàrya othana, nto nlelamaka ohiyu,
nsuwa musewe wa tthara othanana,
nlelamaka musewe wa tthara ohiyu,
nsuwa elukuluku ya mutthu,
nlelamaka elukuluku ya Muluku Namuli.
A Via Láctea começa a aparecer com o pôr do sol
e desaparece com o nascer do sol, significa que amanheceu.
O andar da Via Láctea substitui o andar do sol,
o sol brilha de dia e a Via Láctea de noite,
o sol é a estrada alcatroada de dia,
a Via Láctea é a estrada alcatroada de noite,
o sol é o tempo do mutthu de dia
a Via Láctea é o tempo de Deus Namúlico

Mweri Lua
Nlelamaka khaninrekamelana ni mweri.
Nlelamaka nthamwene a mweri.
Wahàryaka mweri,
ti nlelamaka nnamwalela elapo.
A Via Láctea não fica longe da lua,
é amiga da lua.
Quando a lua não brilha,
é a Via Láctea que alumia o mundo.

Itheneri Estrelas
Nlelemaka kahiyene noworoxa,
mene itheneri sinòneya vayakhani.
Mweri ni nsuwa mutokwene aya nlelamaka.
A Via Láctea não é a estrela Niworoxa,
mas o conjunto das estrelas que se vêem durante o ano.
é a chefe da lua e do sol.

Nlelemaka ti mulako wa empa etokwene, muttetthe /muloko/ musewe /omwene wa itheneri sohalikeleya sowaryaxa ni sottelaxa, sinathukumana ntoko epumpa emosaru, omusi ni anamuyarana a kula muxovo, sihinamwalamwalaka wetta waya osulu wirimu, sikhalaka ntoko lampa nari ntoko ntari na Muluku. Wosilo sinaweha okina, ohiyu eriyari sinaweha okina ni vaxaka okina.
A Via Láctea é uma porta de uma casa imensa, uma aldeia, um povo, uma estrada, um reino/as nuvens de muitas estrelas luminosas que se reúnem como um único parentesco de cada espécie sem se separar nas suas andanças no alto do céu, formando um cinto ou a calvície de Deus: à tarde olham para um lado, à noite para o outro e ao amanhecer para o outro,

Nlelamaka nikholo na itheneri
Nlelamaka namalamula a itheneri.
Nlelamaka namuyari a itheneri.
Nlelamaka namalaka a itheneri.
Nlelamaka khulukano ohikhwa.
Nlelamaka eluku enaruma vayakhani.
Vanlelamakani okumi ori vavo. Nlelamaka muthuko wa makholo. Khasinthonyiwa ni ikatha.
Anamwane antxipale khanona.
A Via Láctea é a antepassada das estrelas,
é a responsável das estrelas.
é a mãe das estrelas.
é a mestre das estrelas,
é a curandeira imortal,
é a estrela cadente que rufa durante o ano,
nela há vida,
é o archote dos antepassados,
não se aponta com o dedo
e as crianças não a vê.


Muluku Deus
Nlelamaka Muluku mwanene.
maye /pwiyamwene a musulu òyaraxa
onàlela anamwane awe vareraka.
A Via Láctea é Deus mesmo,
a mãe/matriarca do alto
muito fecunda que faz crescer bem os seus filhos.

Makholo yànìna masoma ohiyu,
vaxaka ewehaka musulú ni yònaka nlelamaka nraya, yànahakalala yèraka:
Muluku òkhala, Nlukunluku òvira’vo.
Tthiri vari nlelamaka, Muluku òkhala’vo.
Os antepassados dançavam de noite,
ao amanhecer olhando em alto
e vendo a posição da Via Láctea,
alegravam-se exclamando: Deus existe,
Deus mesmo passou aí,
na verdade, onde há a Via Láctea, ai vive Deus.

Makholo annèra: Muluku khannyosiwa,
watta opankelaiye, àpanka nlelamaka
wera atthu othene esuwele
wi Muluku okhanle t’òtikiniha.
Os antepassados afirmam: não se despreza a Deus,
pois são muitas as coisas que fez,
fez a Via Láctea para que todos saibam
que Deus existe e faz maravilhas.

Nlelamaka ti maitho a Muluku,
omusivela wàweha an’awe,
khantthuna wi ehawe nari vakhanene.
A Via Láctea é a vista de Deus,
ele gosta de observar os seus filhos,
pois não quer que sofrem minimamente.

Nlelamaka a makholo ahu ti owani o Namuli,
vaphattunwaya ekumi ya amakhuwa:
nokhuma weiwo nnotthikela weiwo o Namuli,
wa Muluku Namuli pwiyamwene.
A Via Láctea dos nossos antepassados
é a casa no Namuli,
porque é a origem da vida dos Macua:
de lá saímos e para lá regressaremos
para Deus namúlico matriarca.

Minepa Espíritos
Nlelamaka itheneri sa Muluku,
minepa sa Muluku sinalohiha sorera
siri maitho, anamwane , arummwa a Muluku.
A Via Láctea são as estrelas de Deus,
são os espíritos de Deus
que fazem sonhar coisas boas,
são os olhos, os filhos, os mensageiros de Deus.

Mpuwa mwa makholo nlelemaka
ti ohiyu ori wothene
ovinyerera /wisonihera wa Muluku
vamosá ni miluku/minepa sawe.
Para os antepassados cada noite
a Via Láctea é a aparição de Deus
com os seus deuzinhos/espíritos.

Muluku kahiyene elupa,
nto nlelamaka nnetta ni itheneri nihakalakano.
Deus não é um macaco velho,
mas como a Via Láctea
que anda com as estrelas alegrando-se.

Metáforas da metáfora
Nlelamaka moro wa Muluku,
muthuko ni warya wa Muluku,
nlaihano na Muluku,
musewe/nsele na Muluku,
etxirempa ya Muluku,
erila ya Muluku,
lampa a Muluku,
kanko/mukuso a Muluku,
ihuku sa Muluku,
otheya wa Muluku,
ekholo ya Muluku,
ekhove ya Muluku,
ireru sa Muluku,
nampurutxi a Muluku,
mutholo ni makeya a Muluku,
nitho na muluku
ephiro ya ovuwa wa Muluku.
A Via Láctea é o fogo de Deus.
é o archote e a luz de Deus,
é a aliança de Deus,
é a estrada/porta de Deus,
é o chapéu de Deus,
é o risco de Deus,
é o cinto de Deus,
é a cerca de Deus,
é a tatuagem de Deus,
é o sorriso de Deus,
é o rabo de Deus,
é a cara de Deus,
é a barba de Deus,
é a coroa de Deus,
é o mutholo (árvore sagrada) e a makeya (oferta) de Deus,
é o olho de Deus,
é o caminho glorioso de Deus.


5- Nlelamaka ni mutthu,
A Via Láctea e o mundo do mutthu

Relacionada á vida diária do mutthu/pessoa, a Via Láctea é metáfora em primeiro lugar da mulher quer pela sua beleza quer por ser mãe que gera, cuida e conduz com cuidado os filhos.
Em segundo lugar, é paradigma das crianças, são elas a Via Láctea que embelezam, alegram o lar e a aldeia.
Em terceiro lugar, é metáfora da autoridade cuja tarefa principal é guiar o povo e fortificá-lo em unidade, afastando dele todas as tentativas individualistas.
Por fim é arquétipo ético da biosofia e biosfera xirima: o bondoso, o sábio, o santo sintoniza sempre com a Via Láctea, está eticamente sempre bem orientado, cronicamente alérgico ao comportamento solista, monista, egotrópico.

Nlelamaka orera oweha,
onlikana muthiyana orera onweha.
onlikana ni asimwali ekhumaka owineliwani.
A Via Láctea merece contemplar,
é como a mulher: anima repara nela,
é semelhante as meninas ao sair da iniciação.

Nlelamaka ti maye òyara, anyi, namwana,
onàlela anamwane awe vareraka.
A Via Láctea é a mãe geradora, sim, a puérpera
que faz crescer bem os seus filhos.

Mpuwa mwa makholo ahu nlelemaka
nri anamwane anamwalela etthoko.
Para os nossos antepassados a Via Láctea
são as crianças que iluminam o lar.

Nlelama mpuwa mwa makholo ahu nnahima
wiwanana ntoko maphapo, wattamana wolipiha makhuva,
Oleliwa ni ovahiwa miruku sorera
Para os nossos antepassados a Via Láctea
significa harmonia como entre gémeos
e vizinhança que fortifica a vida,
é ser educado e dar bons conselhos.

Mpuwa mwa makholo ahu nlelamaka
ti pwiyamwene ni mwene:
khanamaka mekhaya
analipiha elapo, anetta ni an’aya, mwa wiwanana
Para os nossos antepassados a Via Láctea
é a matriarca e o rei:
não moram sozinhos, andam com o seus filhos,
fortificam a aldeia na harmonia.

Nlelamaka musewe worera wotthara,
ephiro yorera ya itthu sothene.
namiruku na ettuniya, khanirino mwilano.
A Via Láctea é a estrada boa para ser seguida,
é o bom caminho de todas as coisas,
a mestre da povoação, não tem limites.

Pixa murima onnètta ni nlelamaka,
khanìthwelela.
O bondoso/santo/sábio anda com a Via Láctea
não perde a direcção.


6- Nlelamaka ni ekristu
A Via Láctea e a fé cristã

Enxertado no horizonte cristão, o aforismo em estudo torna-se sem fadiga um catalizador que provoca reacções e aplicações significativas em todos os sectores do Kerigma cristão como os abundantes textos o aprovam. Além de serem textos cristológicos, salientam também a sinergia e comunhão eclesial, a importância do sinal da cruz, sobretudo especificam bem os períodos fortes do ano litúrgico cristão.

Yesu
Yesu ti nlelamaka a sopattuxiwa sothene, mwa yeyo sothene sinàrya ni ikuru sawe,
okhala wera àhèra: miyo ti warya wa elapo
Jesus é a Via Láctea de todo o gerado,
por isso todas coisas brilham com as suas forças,
porque disse: eu sou a luz do mundo.

Yesu nlelamaka na Muluku,
òniheraka mobatizoni okhala
Mwana ororomeleyaxa a Muluku.
Jesus é a Via Láctea de Deus,
mostrando no baptismo
de ser Filho de confiança de Deus.

Nlelamaka muthato/mululo /muttanda wa elapo,
onòneya ohiyu ori wothene
wa Kwaresmo ni wa Mpaska:
ti muttanda wa Yesu Kristu,
ori warya ni nvuluxa a atthu othene..
A Via Láctea é a ponte/cruz do mundo
que se manifesta cada noite
no tempo da Quaresma e da Páscoa:
é a cruz de Jesus Cristo, luz e salvador de todos.

Nlelamaka muttanda/mululo wa olumwenku,
Yesu nlelamaka na miloko sothene.
A Via Láctea é a cruz/tranca do universo,
Jesus é a Via Láctea de todos os povos.

Ekristu – O ser e vida do cristão

Nlelamaka na akristu ti enenero ya muttanda,
onavuluxa ni onamwalela elapo yothene ya vathi.
A Via Láctea dos cristãos é o sinal da cruz,
que salva e ilumina todo este mundo.

Makholo annèra: nlelamaka onahima opuha,
mwekristuni ori otexa muttanda wa Yesu.
Os antepassados dizem: a Via Láctea significa gozar,
enquanto para o cristão significa portar a cruz de Jesus.

Nlelamaka na akristu ti muttanda a Yesu:
akristu khonalemela muttanda,
khanòva otexa muttanda.
anroromela muttanda
anakumana ni Yesu vamuttandani.
Muttanda ti enenero, ekopo, eparakha ya akristu.
Vamuttandani vakhumale ekereja ni masakramenti.
Muttanda wakiha elapo, wàhuwa atthu
A Via Láctea do cristão é a cruz de Jesus,
aos cristãos não lhes pesa a cruz,
pois a cruz é sinal deles,
não têm medo de levar a cruz,
confiam na cruz,
dão encontro com Jesus na cruz.
A cruz é o sinal, a bengala e a sorte dos cristãos
é na cruz onde saíu a Igreja e os sacramentos.
a cruz defende o mundo, cria pessoas,

Ekereja, eyakha y’ekristu
Ekereja nlelamaka enètta ni akristu
a miloko ni ilapo sothene
ntoko pwiyamwene òyaraxa.
A igreja é a Via Láctea
que anda com os cristãos de todos os povos e nações,
como matriarca fecundíssima.

Nlelamaka ti ephiro ni omwene w’ekristu ohinamala.
A Via Láctea é o caminho
e o reino imenso da cristandade.

Nlelamaka itheneri sihinamwalamwala,
nnalikana atthu othene animwèttela Muluku,
ni akristu anèttela Evanjelyu.
A Via Láctea, estrelas que nunca se separam,
é comparável a todas as pessoas que seguem a Deus
e também aos cristãos que seguem o Evangelho.

Mwekristuni nlelamaka nnahima
musewe wa Muluku mmosaru ni Oraru Wottelaxa
nwettani mwa muloko awe, nnatthara ni nnatthapela
ihuhu sitokwene sa veyakhani:
orwa, oyariwa, ohawa ni ovinyerera wa Yesu Kristu.
Na fé cristã a Via Láctea significa
a estrada de Deus único e trino
nas andanças do seu povo cristão,
segue e celebra os tempos importantes do ano litúrgico:
Advento, Natal, Quaresma e Páscoa de Jesus Cristo.

Nlelamaka nnahima omparadiso
nipuro nopuha wa Maye Maria
ni antxelo othene ni òttela othene
mwa Muluku mmosaru ni oraru wottelaxa.
A Via Láctea significa o paraíso,
o lugar beato da mãe Maria,
de todos os anjos e de todos os santos.

Yohani Batiza ti nlelemaka nònihenre
orwa wa Yesu Kristu.
João Baptista é a Via Láctea
que mostrou a vinda de Jesus Cristo.

Oyariwa wa Yesu vomaliheroni wa eyakha
nàhòneya nlelemaka.
Ohiyu wa Oyariwa t’onayariwaya nlelemaka
etheneri ele ti Yesu Kristu,
akristu ehakalalaka, epula erupaka ni sotxa sàliwene.
Ao nascimento de Jesus no fim do ano viu-se a Via Láctea.
Na noite de Natal é que nasce a Via Láctea,
aquela estrela é Jesus Cristo: os cristãos alegram-se,
a chuva a cair e a comida já bem semeada.

Mwekristuni nlelemaka ti etheneri yele
yakhumale onakhuma nsuwa
yahonle mamwene onakhuma nsuwa.
No cristianismo a Via Láctea é aquela estrela
que saiu do oriente e acompanhou os reis do oriente.

Nlelamaka orera:
akristu annahakalalera ovinyerera w’Apwiya:
ti ehuhu ya mulala.
A Via Láctea é agradável,
os cristãos alegram-se pela a ressurreição do Senhor:
é o tempo da colheita.

Ehuhu ya Mpaska nnakhumaya nlelamaka
ori warya wa ohiyu wa Yesu
ni ovuwa wa Muluku.
akristu elaleyaka ovinyera wa Yesu
ni ehephaka sotxa saya.
O tempo da Páscoa quando sai a Via Láctea,
é o esplendor nocturno de Jesus e a glória de Deus,
os cristãos a anunciar a ressurreição de Jesus
e a fazer as suas colheitas.

Biblya nlelamaka na akristu,
nsu nowopola na Muluku.
Biblya khanavanya sa nlelamaka
mpuwa mwa makholo.
A Bíblia é a Via Láctea dos cristãos,
lé a palavra de salvação de Deus,
a Bíblia não desmente a opinião dos antepassados
sobre a Via Láctea..

Evela ya obatizo ti enonihera
okhala wa Yesu ntoko nlelamaka.
Oxa w’akristu obatisiwa,
obatiso ti nlelemaka naya nopatxera.
A vela do baptismo mostra que Jesus é Via Láctea,
o amanhecer dos cristãos é ser baptizado,
o baptismo é a sua principal Via Láctea.

Nlelamaka nnahima orwa wa Munepa Wottela
onàkhuruwela alipa a murettele.
A Via Láctea é a vinda do Espírito Santo
que desce sobre os pacíficos.

Maria nlelamaka na asimaye othene.
Maria é a Via Láctea de todas as mães.

Avaliação
Para os Gregos a Via Láctea é um fenómeno e um produto duma zanga da deusa mãe Juno que a leva a espalhar o seu leite no céu. Para o vidente xirima é uma porta bem trancada e segura de onde tudo sai e aonde tudo regressa, é metáfora do monte Namuli, sobretudo metáfora de Deus namulico, donde tudo sai e aonde tudo regressa. O xirima navega bem neste rio que ciclicamente desce e desagua no mar para depois de lá regressar. Nlelamaka é uma fecunda metáfora que a biosofia e biosfera xirima sem dúvida soube intuir e sobretudo interpretar. Enxertada no contexto cristão não esgotou mas ampliou a sua força inspiradora.





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