terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Valaponi mamwene nari maphapo meliru:
mweri ni nsuwa
No mundo há só duas autoridades ou dois gémeos:
a lua e o sol

Sentido e Interpretação do aforismo

Introdução
Para o xirima criar é gerar, fazer descer/sair do útero de Deus todos os seres do mundo. Nesta descida ou saída a primeira coisa a aparecer é o mundo astral nos seus arquétipos mais próximos à fonte de origem e mais centrais no horizonte antropológico: a lua, as estrelas e o sol.
A lua ocupa o primeiro lugar, pois para o xirima o dia começa com o anoitecer, com a penumbra nocturna e lunar. A noite é o tempo de Deus e dos seus intermediários. Deus trabalha e actua de noite, no tempo e no ciclo lunar e estelar, por isso o xirima realiza os ritos principais da sua vida nas vigílias. Ao amanhecer ele contempla e recebe os efeitos, os “relatórios” da acção lunar /nocturna de Deus e à luz do sol desenvolve-os. O sol é uma consequência da lua ou da noite, constitui um horizonte de efectividade antropológica devida a uma prévia causa ou acção teológica. .
Outra componente nocturna lunar da mundo-visão xirima vem do segundo significado do substantivo Mweri: mweri indica também o ciclo menstrual da mulher. O fenómeno fisiológico da ciclicidade menstrual é transposto e aplicado ao horizonte da actividade de Deus, matriarca namúlica, do cosmo e do mutthu.
Acerca das estrelas a nomenclatura xirima é muito limitada: Oriente (Tthanda), Pléiades, Sete-Estrelo (Ixakhwi, Ilumelo), Talabarte de Oríon (Muhome-Kòhome), Estrela da madrugada (Tthuka miritti, Mulavilavi, Ntthawa a inama, Niworoxa). As estrelas são sempre vistas ao serviço e no horizonte da lua. Por isso alguns textos o plural itheneri é sinónimo de espíritos ou deusinhos que acompanham Deus ou convivem/colaboram com ele. O sol é um astro derivado do horizonte semântico da lua, é o astro dos efeitos que as causas lunares /nocturnas produzem.
Esta introdução é uma síntese antecipada do sistema das coordenadas da astrologia da biosofia xirima, são afirmações que exigem portanto uma devida demonstração pormenorizada que permitirá depois a compreensão dos princípios biosóficos e biosféricos xirima que caracterizam a astrologia xirima.

1- A polaridade/gemelagem: Lua e Sol

Em todas as culturas a dualidade ou polaridade lua-sol ou sol-lua é presente, umas dão preferência ao sol (egípcia) e outras à lua (mesopotámica, babilónica). A biosofia e biosfera xirima, em base ao mito principal do monte Namuli e de Deus namúlico, é matriarcal e portanto dá a preeminência à lua na polaridade em questão, mas sempre na devida recíproca dialéctica complementar e suplementar, dado que a polaridade dual, a gemelagem, é dogma que caracteriza todo o gerado por Deus namúlico, como os seguintes textos o anunciam com força taxativa e com vigor poético.

Itthu sothene sa valaponi sinnètta pili pili.
Todas as coisas do mundo andam duas a duas.

Valaponi sopattuxiwa sothene sòkwanela pili-pili.
No mundo toda a geração
completa-se na dualidade.

Muteko wovara atthu eli wakhuva omala
Muteko onavariwa matata meli.
O trabalho de duas pessoas acaba logo.
O trabalho realiza-se com as duas mãos.

Olumwenku nikulá: onèttihiwa misempo mili:
nikula nùnnuweru, nnakakhiwa ni misempo mili.
O universo é como o barco:
é conduzido por dois remos.
Apesar da grandeza do barco,
è empurrado por dois pauzinhos.

Elapo erawe etokwene: enohimelaniwa.
O mundo é um almofariz grande:
pila-se alternativamente com os dois pilões.

Mithala mili sinapapa ephitta.
È com dois bambus que se ata o saco.

Valaponi mamwene ari mweli pahi:
mulopwana ni muthiyana
anavara vamosá, sawasawa myetto mili.
No mundo há só dois chefes:
o homem e a mulher
trabalham em harmonia como as duas pernas.

Muluku apattuxaka elapo,
àmukawanyiha muthiyana ni mulopwana,
wera ekhaleke eli sawasawa mweri ni nsuwa.
Deus quando gerava o mundo
mandou distinguir a mulher e o homem
para que constituem uma dualidade como a lua e o sol.

Yopattuxiwa eri yothene ennètta ni orirya wa mweri,
warya ni oviha wa nsuwa.
Toda a criatura anda com a frescura lunar,
e com a clareza e o calor solar.

Wahakhanle mweri ni nsuwa,
ekumi khayètta phama.
Sem a lua e o sol, a vida não andaria bem.

Muluku okawanya ihuhu
yele ya mweri ni yele ya nsuwa.
Deus dividiu os tempos:
o da lua e o do sol.

Maphapo a Muluku: mweri ni nsuwa
Mweri murima wa Muluku,
nsuwa nitho na Muluku.
Os gémeos de Deus são a lua e o sol:
a lua é o coração de Deus,
o sol é o olho dele.

Mweri orotheliwa ni nsuwa:
sopili sinèttiha elapo.
Mweri onnavara miteko s’athiyana
ni nsuwa nnovara miteko sa alopwana.
Mweri onnahakalaliha, nsuwa nnàttaruxa.
A lua foi casada pelo sol:
ambos conduzem o mundo:
a lua realiza os trabalhos da mulher,
o sol realiza os do homem.
A lua consola, o sol castiga.

Hatá omulukuni itthu sinnètta pili-pili:
Muluku ni Satana.
Até em Deus as coisas andam duas a duas:
Deus e Satanás.


2- Mweri-Itheneri ni Nsuwa
Incidência teológica da lua/estrelas e do sol

A lua, as estrelas e o sol, todos estes astros são teófanos e hierófanos, todos falam e manifestam algo de Deus: a lua e as estrelas do ponto de vista causal, isto é, de Deus gerador, o sol do ponto de vista efectivo consequencial, isto é, de Deus realizador. A lua manifesta a maternidade e feminilidade nocturna de Deus, as estrelas a sua sinergia nocturna partilhada, e o sol a sua paternidade e potência realizadora diurna.
Os textos acentuam às vezes a complementariedade entre a simbologia teológica da lua e do sol, às vezes as diferenças ínsitas na recíproca complementariedade, ficando porém sempre evidente a primazia lunar e nocturna no teológico. O facto de a lua conviver com as estrelas, evidencia a solidariedade partecipativa, a vizinhança convivencial, simbiótica e quase democrática de Deus Namuli, enquanto que o facto de o sol ao amanhecer entrar no reino do universo e do mundo do mutthu sozinho e com uma luz capaz de eclipsar a da lua e das estrelas, evidencia a sua unicidade auto-suficiente e auto-referencial, monárquica, despótica e autocrática. Todo fica bem resumido na afirmação taxativa: a lua é o coração de Deus, enquanto que o sol é o olho de Deus. Contudo nem a lua nem o sol chegam a esgotar o mistério/arcano de Deus, não passam de paradigmas aproximativos e analógicos.

Maitho a Muluku ti mweri, itheneri ni nsuwa.
Os olhos de Deus são a lua, as estrelas e o sol.

Mweri ni nsuwa sinimwèttela Muluku.
A lua e o sol seguem a Deus.

Muluku kahiyene nsuwa nnètta elapo mekhá,
Muluku mwerí onètta ni itheneri
itheneri sothene sinakhala sohakalala ni mweri.
Itheneri sothene sinnakokhorela mweri,
sopattuxiwa sothesene sinnamukokhorela Muluku.
Deus não é como o sol que anda sozinho no mundo,
mas sim como a lua que anda com as estrelas:
todas elas se alegram com a lua,
todas elas se ajoelham perante ela,
tudo o criado se ajoelha perante de Deus.

Mweri wàreru, nto ohiyu ti w’anene:
Muluku ni minepa.
Apesar a lua de brilhar muito,
a noite porém é dos donos: Deus e os espíritos.

Itheneri sàtteru, mweri ori mmosá:
Muluku ni miluku sawe.
Embora haja muitas estrelas, a lua porém é única:
Deus e os seus deusinhos.

Ohiyu mweri onnètta wàryaka
ni itheneri sàphilaka :
Muluku ni minepa sawe.
De noite a lua anda brilhando
com as estrelas a pestanejar:
Deus e os seus intermediários.

Muluku mwerí: ikhove sawe siri pili:
warya (opuha) ni epiphi (ohawa).
Deus é como a lua que tem duas caras /essências:
luz (gozo) e obscuridade (sofrimento).

Mweri murima wa Muluku onopittukuxiwa:
mweri ekumi ya Muluku.
mweri erimarima ya Muluku.
A lua é o coração de Deus que se vira:
a lua é a vida de Deus,
a lua é o núcleo vital de Deus.

Mweri murima wa Muluku:
onnathaliha sa omuluku,
onnasuweliha sa wothiyanani.
A lua é o coração de Deus:
anuncia o divino/teológico.
A lua é o coração de Deus:
faz conhecer o feminino.

Mweri wa Muluku khavo ahinatthuna.
Não há ninguém que não gosta da lua de Deus.

Mweri khonavaviha murima:
ti murima wa Muluku
onririha ni onahakalaliha itthu, ovahaka okumi.
A lua não faz estremecer o coração:
é o coração de Deus
que arrefece e consola as coisas doando a vida.

Mweri ehako ya Muluku
onnàsasa osuwela sa valaponi.
A lua é a adivinha de Deus:
procura saber os novidades da terra.

Mweri nsuwá na ohiyu
Muluku Namuli opankiyaiye.
A lua é o sol nocturno que Deus namúlico fez.

Mweri elolá ehinatutha mmaithoni
Muluku opankiyaiye.
A lua é um espelho feito por Deus
que não obceca.

Mmwerini hiyo nnèra omulukuni.
Nós consideramos o lugar da lua como o de Deus
(o lunar é teológico).

Muluku mweri mutokwene,
kula mutthu onalapela vate vawe.
Deus é a lua cheia,
cada pessoa a venera no seu lar.

Mweri murima wa Muluku,
nsuwa nitho na Muluku.
A lua é o coração de Deus,
o sol é o olho dele.

Muluku omusivela wupuwela vamwerimi.
Muluku omusivela owehana vansuwani.
Deus gosta de pensar na lua,
mas gosta de reparar no sol.

Nsuwa nìthó na Muluku nnamwalela elapo yothene
wòniha sopattuxiwa sothene..
O sol é olho de Deus que ilumina todo mundo.
faz ver toda a geração.

Muluku nsuwá: khaninamuthanla mutthu:
khampisa oromoliwa, khaninvariwa.
Deus é como o sol: não escolhe ninguém:
não tarda a ser mencionado, porém não se agarra.

Muluku ekamamá ya nsuwa,
enamwalela olumwenku wothene: orera oweha.
Deus é o esplendor do sol:
ilumina todo o mundo: merece contemplar.

Muluku nsuwa: onvira onòra varaiye’vo.
Deus é como sol:
quem passa aquece-se lá onde se encontra.

Muluku nsuwa na mulála:
nòpaka, atthu annahakalala.
Deus é como sol do tempo das colheitas:
quando brilha, as pessoas ficam contentes.

Mweri wàreru, khenòneya exiri ya Muluku.
Apesar de brilhar muito a lua,
o segredo/mistério de Deus não se torna visível .

3- Mweri: tempo e estações da lua

3.1 Ciclo lunar nocturno
A lua segue dois ciclos. O primeiro ciclo é nocturno, aparece ao anoitecer e desaparece ao amanhecer, ao despontar do sol. Por isso o tempo nocturno é o tempo específico e exclusivo da lua: tempo de penumbra, de descanso do mutthu, mas também tempo activo e dinâmico de Deus e dos espíritos, tempo teológico e místico, tempo por fim terapêutico por excelência. Os textos frisam bem a sincronia e sinergia da lua com as estrelas que, transpostas no horizonte teológico e místico, indicam a sinergia e sinodalidade de Deus com os seus intermediários, os espíritos. Por sua vêz, o tempo do sol é o dia, o tempo da luz, do calor, do trabalho e do sofrimento para o mutthu.

Amwali òwani anòneya ohiyuru, ti xeni? Mweri.
Uma senhora da terra vê-se só de noite, o que é? A lua.

Mweri onalamula ohiyu ni onèttihiwa ni minepa.
A lua manda de noite
e é conduzida pelos espíritos.

Ohiyu ti wa minepa, kahiyene wasa ehako,
mweri khonàkuleliwa miwa, nto nsuwa.
A noite é para os espíritos,
não é para consulta divinatória,
de noite não se extrai espinhos.

Mweri ori murima wa Muluku:
niwoko onètta ohiyuru ntoko minepa.
A lua é o coração de Deus:
porque anda só nas noites como os espíritos.

Minepa sinnètta ni mweri ohiyu,
othana, vantxipalexa nsuva va muru, sinimwitthuwa
Os espíritos andam sempre com a lua de noite,
de dia, particularmente à meio-dia, descansam.

Mweri erimarimá ya itthu sothene sohiyu.
A lua é o núcleo cardial do universo nocturno.

Mweri ti piwiyamwene onapapela itthu s’ohiyu
ohiyu ori maye a miruku,
ti ehuhu ya Muluku Namuli ni ya minepa saya;
haya nàlose ohiyu aretta ahu, nawìnele anamwan’ihu.
A lua é a matriarca que apalpa as coisas nocturnas,
a noite é a mãe da sabedoria
é o tempo de Deus namúlico e dos espíritos:
vamos na noite cerimoniar os doentes
e iniciar os nossos filhos.

Wìlale kètta n’atata, ti xeni? Mweri.
Oh, se anoitecesse para eu andar com o tio materno,
o que é? A Lua.

Mweri moro wa ohiyu, nsuwa moro wa othana.
A lua é o fogo nocturno,
ao passo que o sol é o fogo diurno.

Mweri onnavara muteko ohiyu,
Nsuwa nnavara muteko othana.
A lua trabalha de noite,
o sol trabalha de dia.

Mweri onnalamula ohiyu
ni onnèttihiwa ni Muluku ni minepa.
A lua manda de noite
e é conduzida por Deus e pelos espíritos.

Muluku mweri: onnòna ohiyu.
Deus é a lua: vê de noite.

Mweri eruku yohiyu
enètta ni minepa sa makholo o Namuli:
khasinamwalana, nto sinnìwanana.
A lua é a sombra de noite que anda
com os espíritos dos antepassados namúlicos:
não se separam, mas entendem-se.

3.2 Ciclo lunar mensal

Um segundo ciclo da lua é mensal. Ao decorrer um mês a lua passa por 4 fases: lua nova ou novilúnio, lua crescente, lua cheia ou plenilúnio, lua minguante e, por fim, interlúnio. Cada fase, sobretudo o interlúnio e o novilúnio, são extremamente significativas no horizonte do mutthu (morte e ressurreição). Ultimamente o interlúnio no horizonte laborial moderno é aguardado com impaciência e celebrado com euforia por corresponder ao período da recepção do vencimento.

Okhwa warí si mweri, kamwìnla kimale.
Se a morte fosse como a lua,
eu deixaria de chorar.

Mweri wamalaka, watta sinakhumelela:
ananepa annatepa.
No interlúnio acontecem muitas coisas:
os malucos pioram.

Mweri wahikhwá, anamuteko khanàkhela.
Okhwa wa mweri onnaruha eparakha valaponi,
okhwa wa nsuwa onnaruha epiphi.
Antes de a lua morrer, os trabalhadores não recebem.
A morte da lua traz a boa sorte no mundo,
enquanto a morte do sol traz trevas.

Mweri waryá, onaweherera otxipha.
A lua que brilha espera por apagar-se.

Tata, okhwa warí mweri, amunna kawòna.
Tio, se a morte fosse como a lua, iria ver a avó.

Mweri ola onàrya ola, t’amunna anakimwalela.
Esta lua que brilha ali, é a avó que me ilumina.

Mutthu onakhwa ntoko mweri:
akhwakaru, onoyariwa mukina.
A pessoa morre como a lua:
logo que morre, nasce uma outra.

Ekhwaka erwaka, ti xeni? Mweri.
Morre vindo, quem é? A lua.

Musulú ttinttiro, vathi ttinttiro, ti xeni? Mweri.
Virada para cima brilha, virada para baixo brilha,
quem é? A lua.

Muthiyana òwani okhwa ni ovinyerera, ti xeni? Mweri.
Uma senhora em casa morre e ressuscita,
quem é? A lua.

Mweri wakhwá, onotthikela tho woneya.
Mweri khonètta okelaka ottai,
onotthikela vowakuveya.
Se a lua morrer, regressa a ser visíve de novo.
A lua não anda muito longe, regressa logo.


4- Nsuwa: tempo e estações do sol

4.1 Dia solar
O sol marca mais as actividades do mutthu, particularmente do mulopwana/homem: vai a machamba logo que o sol anuncia a sua chegada próxima, trabalha de preferência com o sol às costas até tê-lo acima da cabeça, descansa à sombra um bocado, tomando uma pequena refeição, retoma de novo o trabalho para por fim regressar a casa ao pôr do sol. Os três momentos diários do sol lembra ao mutthu os três momentos cardiais da sua existência: infância, maturidade, velhice ou vida, morte e ressurreição.

Nsuwa nòkhalano ihuhu ttharu vanihikuni:
nsuwa nnarera woxixelo ni woxekuwa,
nsuwa va muru ohoxa:
ori ntoko mutthu onàkhula ihuhu ttharu:
okumi, okhwa ni ovinyerera.
O sol tem três tempos por dia:
é agradável de manhã e a tarde,
mas faz sofrer a meio-dia:
é como os três momentos do mutthu:
a vida, a morte e a ressurreição.

Khalai nsuwa nanelaru, khavo èttetta.
Antigamente ao pôr do sol, ninguém andava.

Nsuwa nitho na Muluku:
nnaphweya ohiyu.
O sol é o olho de Deus:
quebra-se de noite.


4.2 Estações solares anuais
Em segundo lugar o sol marca as actividades do mutthu, em particular do homem/mulopwana, no ciclo estacional do ano: aos primeiros sinais da primavera (ephovo: Setembro-Outubro), ele prepara a machamba, sofrendo de baixo do sol, enquanto as queimadas passam por toda a parte, semeando morte e preparando assim nova vida, sepultando o passado e preparando o futuro. Com a chegada da chuva (Novembro-Dezembro) entra no período intenso de trabalho, passando mais tempo nas machambas que em casa, sofrendo debaixo da chuva e com o sol ao zénite. Na altura das colheitas (Março-Junho), quando a chuva e o sol atenuam de intensidade, o ritmo laborial do homem diminui ou, se não diminui, a alegria das colheitas lhe faz esquecer o sofrimento de baixo do sol, até lhe torna o trabalho motivo de consolação. Concluídas as colheitas, na frescura do verão, sem chuva e com o sol ao horizonte (Julho-Agosto), o homem permite-se o devido descanso, celebrando festas comemorativas de agradecimentos a Deus e aos antepassados, viajando e visitando parentes e amigos, organizando caças e pescas.

Elimwe yorirya nsuwa nnahawa ni nnavira oxerexere,
eyita nnavira eriyariru
hiyo amakhuwa ni ekhalelo ya makholo ahu
ninnòna wi yòkhala’vo enenero ela etokotoko:
eyita ti ya epula, elimwe ti ya nsuwa.
No verão frio o sol sofre e passa no horizonte,
no tempo chuvoso passa em cima da cabeça,
nós macuas de acordo com os nossos antepassados
interpretamos assim esta sinal grande:
o inverno é para a chuva, o verão para o sol.

Elimwe yoviha nsuwa ni moro mothemwene
onamòperera mulopwana okweha.
No verão quente o sol e o fogo em toda a parte
convidam o homem a preparar a machamba.

Vanalimmwa ipatthula
onnahasuwiwa nsuwa, ntthupi, atupusi.
Onde se prepara machambas novas
sofre-se por causa do sol, da poeira e dos mosquitos.

Namalima khanòna nsuwa,
onìtthuwa vakhani, onòva otxerewa.
O camponês não olha ao sol,
descansa pouco, receia por atrasar.

Ehuhu ya eyita yarupaka epula
vaholo ninnòpa nsuwa, enahima mulakha.
Se no inverno chover e depois aparecer o sol,
significa intervalo/trégua de chuva.

Eyita mahi khanthowa,
koma elimwe mahi ankhala othowasa
nthowa na nsuwa nnavinxa mahi.
No tempo chuvoso não dá falta de água,
mas no verão dá muita falta
por causa de sol que a faz evaporar.

Elimwe malaxi t’anùmaya ni nsuwa.
È no verão que o capim seca devido ao sol.

Elimwe ehuhu Muluku onònihenraiye
warya wa nsuwa: ekhove awe ekina
nihakalale, nimuxekure yowo
nipankaka isataka sahu, nupuwelaka ahim’ahu
O verão é o tempo em que Deus
mostra a clareza do sol: a outra sua cara.
Alegremo-nos, agradecemos a Deus,
celebrando comemorações para os nossos parentes.

Mwana nsuwa na mulàla: orera wora.
A criança é como o sol do tempo da colheita:
dá para aquecer-se.

Milala sa epula ni nsuwa na mutano khasirere,
nàxekure amunna ni apwiya owanny’aya
nàtothe anahe ni nitothele ihopa sintxipale.
Devido à chuva e ao sol favorável
as colheitas deste ano são abundantes,
visitemos a avó e o avô na casa deles,
cacemos gazelas e pesquemos muito peixe.


5- Mweri como mulher/menstruo:
Lua e luar antropologicamente

A lua com os seus ciclos mensais de duração aproximadamente idêntica com o ciclo menstrual da mulher não podia não ser o paradigma da mulher. Se isto é valido para todas as culturas, vale ainda mais para a cultura macua xirima que tem religiosidade e antropologia com marcas em prevalência femininas e maternas. Namuli não é só um monte mítico e místico, mas é o nome mesmo de Deus: a matriarca menstruante.
A lua reverbera os seus ciclos não só na vida da mulher, mas uns textos sugerem também que tudo no universo se sujeita a um certo ritmo e rito menstrual: o adivinha ou as curandeiras tem que limpar, medicar e revigorar os seus instrumentos ou os seus medicamentos ao novilúnio.
Mesmo neste contexto exclusivamente feminino, nocturno e lunar, não se exclui a presença do sol, do elemento masculino e paterno como elemento consequencial e diurno.

Mweri ti muthiyana òpatxera variyari vasimaye.
A lua é a primeira mulher entre as mães.

Mweri enenero ya athiyana.
Mweri khonimukusya muthiyana.
Mweri wuhuwa wa muthiyana.
A lua é o ícone das mulheres.
A lua/menstruo não escapa a mulher,
é o crescimento da mulher.
.
Mweri athiyana annattittimiha,
niwoko ti ekumi aya.
As mulheres respeitam a lua /ciclo menstrual,
pois é a vida delas.

Mweri ephattuwelo ya ekumi yothene
enkhuma mwa Muluku.
A lua/menstruo é origem de toda a vida
que vem de Deus.

Mweri ori murima wa Muluku,
niwoko nikholo n’athiyana othene.
A lua/menstruo é o coração de Deus:
porque é a matriarca de todas as mulheres.

Makholo mweri àhela okhala murima wa Muluku, niwoko wahakhanle wula,
ekumi kheyayariwa.
Os antepassados consideraram a lua/menstruo
como o coração de Deus,
porque se não houvesse menstruação,
nenhuma vida seria gerada.

Mweri epiphí/exiri ya muthiyana.
A lua/menstruo é a escuridão/mistério da mulher.

Mweri onnavaha athiyana ehuhu yowitthunwa.
A lua/menstruo dá às mulheres tempo para descansar.

Athiyana mweri wohiyu: wòpiha.
A mulher é a lua nocturna:
é perigosa/sagrada/importante.

Mweri eneneró ya mwikho w’athiyana.
onnahima itthu sa mwikho ni sa mpuha awe.
A lua/menstruo é o sinal do tabu das mulheres:
indica as prescrições e os eventos gozosos dela.

Muthiyana otthekenle khuluwi
mwaha woriha ephome kula mweri:
kula mweri onoriha ephome
wera erutthu awe yètteke nnene.
A mulher pecou de vez
por deitar sangue cada mês.
cada mês deita sangue
para o seu corpo andar bem.

Khapa khanlapuwa moloko ehuhu ya mweri.
O cágado não atravessa o rio
no tempo da lua/menstruo.
(proibição dos encontros íntimos)

Khonlattuliwa ototha,
amwariye eri ni mweri.
Não se comunica a caça,
estando indisposta a esposa.

Amwavano annateka empa yòna mweri: watala.
Os de agora/modernos constroem casas
olhando a lua/menstruo.

Athiyana mwerí munyowani: orera wàweha.
A mulher é como a lua nova/menstruo acabado:
é um gozo contemplá-la.

Mweri ori Namuli mutokwene
athiyana yale avahiwe oyara.
A lua é a grande Namuli/menstruante:
as mulheres a receberam para gerar.

Mweri xapi athiyana: wula ni oyara.
A lua/menstruo é abelharuco das mulheres:
menstruação e geração.

Ònne mweri, òhòna murima munyowani wa Muluku.
Quem viu a lua /apanhou a menstruação,
viu o novo coração de Deus.

Mweri ti pwiyamwene àthiyana othene
niwoko onàmwalela ntoko nsuwa mwepiphini
ni onalipiha mteko anvaraya valaponi.
A lua é a matriarca de todas mulheres,
pois ilumina-as como sol nas trevas
e fortifica os trabalhos que realizam no mundo.

Pwiyamwene mwerí:
onnètta ni makeya, eri eyotxa ya Namuli.
A matriarca é a lua:
anda com a makeya que é comida namúlica.

Akina annaweha mweri wirimu,
akinaku arino mweri mmirimani.
Uns contemplam a lua no céu (homem),
outros têm a lua no coração/útero (mulher).

Mweri masuwá:
ti pwiyamwene onàyara mamwene mantxipale.
A lua é o múltiplo do sol/equivalente a muitos sois:
é a matriarca que gera muitos reis.

Mweri etthú etokwene:
athiyana yarupalá, annàlikelela myeri.
A lua/menstruo/mês é uma coisa muito importante,
as mulheres quando concebem, contam os meses.

Ohiya mweri enahima orupala.
Deixar de apanhar a menstruação
significa estar de estado.

Mpuwa mweparakha anyu mwàphwanyá etthu
nwònihereke amay’anyu,
niwoko yawo t’awònihaleni nsuwa.
Maye ti ohiyu/mweri,
onvara muteko wa Muluku Namuli,
tivó mwana sowima sawe
sinòneya vansuwani/vothanani.
Se tiveres sorte e alcançares algo,
tens que o apresentar a mãe,
porque é ela que te mostrou o sol:
a mãe é a noite/a lua-menstruo,
realiza o trabalho de Deus namúlico,
por isso os frutos dos seus filhos
se tornam visíveis ao sol, de dia.

Ehako khenamala mweri ehilòliwe.
A adivinhação não acaba um mês
sem ser medicada (menstruo cósmico).

Mwana ori othene mutokwen’aya ti mweri.
De cada criança é a lua a sua autoridade.

Mweri mutokwene ahòne mwana:
khanòniheriwa mweri ahinaye okasa maino.
Etaphulelo: mwana ayariwá khanapatxera
wona mweri mwakhummaiye’mo.
onapatxera wona nsuwa vonrowaiye’vo.
A criança não deve observar a lua:
não se lhe monstra a lua antes de despontar os dentes.
Explicação: a criança quando nasce
não começa a ver a lua/útero donde veio,
mas começa a ver o sol/dia para onde vai.

Murima muthiyaná:
khanayeva ni mweri.
O coração é como mulher:
nunca é insignificante tendo a lua/menstruação.

Muthiyana elolá,
nsuwa na elapo nowoneyaxa variyari v’atthu.
A mulher é espelho,
o sol do mundo muito visível entre a gente.

Mwapu ori ntoko erukulu
onakhuma mutthu onòna nsuwa.
A panela de barro é como a gravidez
da qual sai a pessoa que vê o sol.


6- O específico da lua e do sol

Os textos são explícitos em enumerar as características polares subjacentes ao horizonte semântico da lua e do sol, o distintivo da lua encontra logo o correspondente naquele do sol, às vezes em termos exclusivos e opostos e às vezes em termos inclusivos e inversos, simétricos e especulares.

6.1 Específico único da lua

O específico e único da lua é de ser o astro do tempo e do lugar nocturno onde a gente se senta, fala, conversa, descansa, revê o dia nos seus aspectos positivos e negativos. Neste caso torna-se tempo de revisão, de conversão, de perdão e de reconciliação. Qualquer guerra e tensão doméstica ou civil deve acabar na oralidade nocturna, no diálogo lunar, sentados em redor do alpendre e perto das três pedras lareiras. O precípuo da lua é de ser o coração de Deus namúlico: na penumbra nocturna e lunar Deus respira, todo o cosmos respira e também o mutthu respira e descansa.

Momweneni mwa mweri t’orera okilathi`wo.
Mweri t’omwene worera ommakela.
No reino da lua é bom sentar-se,
a lua é o reino de bem-estar.

Mweri pwiyamene onarukunuxa mirima:
onnapuka milattu sothene.
A lua é a matriarca que converte os corações,
trata todos os problemas.

Mweri mwene onanilaka ni eyano:
onnamaliha ikhotto sothene.
A lua é a rainha que nos educa com a boca:
conclui todas as guerras.

Mweri olevelela itthu sintxipale,
ti ehuhu yorukunuxa murima.
A lua perdoa muitas coisas,
é tempo de conversão.

Mirima sinamumula vamwerini.
Wetta ni mweri wettihiwa ni murima wa Muluku.
Os corações descansam ao luar.
Andar ao luar,
é ser conduzido pelo coração de Deus.

Mweri warí wowuma murima,
khanònaka itheneri:
mweri ni itheneri siri muloko mmosá.
A lua se fosse má, não veríamos as estrelas.
A lua e as estrelas constituem um só povo.

Muluku onnamumula vamwerini.
Murima wa mutthu onamumula vamwerini
sopattuxixa sothene sinamumula vamwerini.
Deus respira ao luar,
o coração da pessoa respira ao luar,
todo o criado respira ao luar..


6.2 Lua e sol:
Complementariedade harmónica, inclusiva, simétrica, especular e integrante

Os textos da biosofia e biosfera xirima enumeram os vários aspectos onde a polaridade/gemelagem lua e sol se conjugam e se declinam em conjunto harmonicamente, completando-se reciprocamente no respectivo tempo, espaço, reino e tarefas, como as duas orelhas ou os dois olhos que se sintonizam inclusivamente realizando uma única operação.

Mamwene meli/maphapo meli ari erimu ni etthaya
eyo tiyo, mweri ni nsuwa
Os dois governantes/gémeos são o céu e a terra,
quer dizer, a lua e o sol.

Mweri ni nsuwa onlikana maru a mutthu:
khanakumanela.
A lua e o sol são como as orelhas da pessoa:
não se encontram/excluem/opõem.

Mweri murima wa Muluku,
nsuwa nitho na Muluku.
A lua é o coração de Deus,
o sol é o olho dele.

Muthiyana mweri ni ehipa,
mulopwana ti epaso ni nsuwa,
A mulher è a lua e a enxada,
o homem é o machado e o sol.

Omwene wa nsuwa ti wa vathi/mutthu.
Omwene wa mweri ti wa wirimu/Muluku.
O reino do sol é a terra/mutthu (antropológico).
O reino da lua é o céu/Deus (teológico).

Mweri ori pwiyamwene a itthu sa wirimu,
nsuwa ori mwene a itthu sa vathivava.
A lua é a matriarca das coisas do céu,
o sol é o rei das coisas desta terra..

Nsuwa nnèttiha itthu sothana/sa mutthu.
mweri onnapasopa itthu sohiyu/sa Muluku.
O sol conduz as coisas diurnas/do mutthu,
a lua controla as coisas nocturnas/de Deus.

Omwene wa mweri ti w’athiyana
omwene wa nsuwa ti w’alopwana.
O reino da lua é das mulheres,
o do sol é dos homens.

Mulopwana nsuwá: onvara sothene,
muthiyana mwerí: onakhapelela sothene,
nto sothesene sinèttihiwa ni Muluku.
O homem é como o sol: faz tudo,
a mulher é como a lua: cuida de tudo,
porém tudo é conduzido por Deus.

Nsuwa nnètta ni epaso/mwithi: mulopwana.
mweri onnètta ni ehipa/erawe: muthiyana.
O sol anda com o machado/pilão: o homem.
A lua anda com a enxada/almofariz: a mulher.

Mweri nsuwá nikhani anamwane anatthunaya
ti mwene òthela ni anamwane.
A lua é o sol pequeno/agradável
que as crianças amam.
é a rainha que brinca com as crianças.

Mweri pwiyamwene ni nsuwa mwene.
Pwiyamwene ti mweri onalamula ohiyu,
Muluku t’onvahaiye mikalampa/mamwene.
A lua é matriarca e o sol é rei.
a matriarca é a lua que comanda de noite,
pois é Deus que lhe dá herdeiros/reis.

Mweri ni nsuwa anìwanana ni mahutte.
A lua e o sol sintonizam com as nuvens.

Mweri ni nsuwa ti ekumi ni eruku
ya kula yopattuxiwa.
A lua e o sol são a vida e a sombra
de cada criatura.

Mweri moro wohiyu,
nsuwa moro wa othana.
A lua é o fogo nocturno,
ao passo que o sol é o fogo diurno.

Mweri onalamula ohiyu wothene.
nsuwa nnalamula wothana wothene.
A lua comanda toda a noite.
o sol comanda todo o dia.

Momweneni mwa mweri miri khasinùma.
momweneni mwa nsuwa miri sinophuwa.
No reino da lua as árvores não secam,
no reino do sol as árvores brotam.


6.3 Lua e sol: oposição simétrica

Outros textos salientam mais os aspectos opostos e exclusivos da polaridade/gemelagem lua e sol. Porém nunca se trata de exclusividade radical, aliás acabaria a polaridade/gemelagem, portanto há sempre uma margem para a complementariedade, o oposto latente ou patentemente chama a memória e remete ao parceiro correspondente.

Ohiyu ti wa minepa, kahiyene wasa ehako,
muthuko wa Muluku nsuwa pahi,
mweri khonàkuleliwa miwa, nto nsuwa.
A noite é para os espíritos,
não é para consulta divinatória,
pois o archote de Deus é só o sol,
ao luar não se extrai espinhos, mas ao sol.

Nsuwa olamula onyala,
mweri onnalevelela.
O sol comanda rudemente,
a lua perdoa.

Mweri khonalamula
nari khonvira omwene wa nsuwa.
Nsuwa khaninlamula
nari khaninvira omwene wa mweri.
A lua não dirige nem passeia pelo reino do sol,
o sol não dirige nem passeia pelo reino da lua.

Nsuwa khaninalamula epiphi,
mweri khonalamula ekamama.
O sol não dirige a escuridão,
a lua não dirige a clareza.

Olamula wa mweri ti orirya ni orera.
Olamula wa nsuwa ti oviha ni ohawa.
O dirigir da lua é terno e agradável,
o do sol é quente e doloroso.

Omwene w’anamweri ti wa murettele,
omwene w`anansuwa ti wa ekhotto.
O reino da lua é de paz,
o do sol é de guerra.

Omwene ni muteko wa mweri ti woririha,
omwene ni muteko wa nsuwa ti wovihiha.
O reino e a tarefa da lua refresca,
o reino e a tarefa do sol aquece.

Omwene woviha okunya ori wa anansuwa.
Omwene worirya okunya ori wa anamweri.
O reino de autoridade quente é o do sol,
o reino de autoridade mite é da lua,

Warí ohakalala, wòkhala’wo mweri,
warí othanana, nòkhala’wo nsuwa.
Ao luar há alegria,
ao sol há tristeza.

Mweri waryaka anamwane annahakalala
nsuwa nòpaka anamwane annìnla.
Quando brilha a lua, as crianças alegram-se,
quando bate o sol, choram.

Mweri wàryaka, anansuwa annanyonya.
Quando brilha a lua, o sol não gosta.

Omwene aka onlikana ni ole wa mweri,
omwene à onlikana ni yole wa nsuwa.
O meu reino é como aquele da lua,
enquanto que o teu é como o do sol.

Omwene wa mweri onètta ni an’aya/itheneri,
omwene wa nsuwa onnètta mekhayaru
ntoko elupa yohikhalano maino.
O reino da lua anda com os seus filhos/estrelas,
o reino do sol anda sozinho/solitário
como um macaco velho sem dentes.

Omwene wa nsuwa khorino mapwattapwattha aya,
mweri wòkhalano mapwattapwattha aya: itheneri.
O reino do sol não tem chefes de família,
a lua os tem: as estrela.

Omwene wa mweri wòkuxiwa ni mwittana: nsuwa,
ni omwene wa nsuwa wòkuxiwa ni mwittana: mweri
O reino da lua foi levado pelo inimigo, o sol;
o do sol foi levado pelo inimigo, a lua.

Nsuwa ti notxentxa malamulo aya,
meri khonatxentxa malamulo aya.
O sol muda as suas leis, a lua não.

Nsuwa nnakhwa vanihikuni,
mweri onamala mahiku mantxipale ohikhwiye.
O sol morre cada dia.
a lua acaba muitos dias antes de morrer.

Mweri wahikhwá anamuteko khanàkhela:
. Okhwa wa mweri onnaruha eparakha valaponi,
okhwa wa nsuwa onnaruha epiphi.
Antes do interlúnio os trabalhadores não recebem.
a morte da lua traz a boa sorte ao mundo,
a do sol traz escuridão.

Nsuwa khaninòpa mmurimani.
mweri onnarya ni onnnahalaliha mmurimani
O sol não aquece dentro do coração,
a lua ilumina e consola o coração.

Nsuwa nnavihiha yottheka,
mweri onririha yottheka.
O sol aquece/intensifica o pecado,
a lua arrefece/mitiga o pecado.

Mweri mantha a Muluku,
nsuwa moro wa Muluku.
A lua é a manta/tepor de Deus,
o sol é o fogo/calor excessivo de Deus.


6.4 Sol: peculiar negativo

Como para a lua, assim para o sol, a biosofia e biosfera xirima chega a salientar o peculiar do sol por um lado com conotações em prevalência negativas e por outro com conotações positivas, sendo as primeiras as mais numerosas, pois constituem o objecto de maior reflexão. Por ser o sol aos olhos da biosofia e biosfera xirima quente demais e sem piedade, por sobretudo andar sozinho e auto-suficiente, o elenco das negatividades do sol nunca se esgotaria.

Namwettamekha nsuwá:
khannakhalihiwa.
O solitário é como sol:
não é social.

Nsuwa nnalaka nìnnuwihaka,
O sol castiga fazendo crescer.

Nsuwa mwene nnàlaka anamwane
ni nttaruxo ni orirela.
O sol é o rei que castiga/educa os filhos
com punição e com frio.

Nsuwa nòpaka,
atthu annatthawela mmuttuxini.
O sol quando aquece,
as pessoas refugiam-se na sombra.

Nsuwa khannamaliha osiwa, nto nnantxereriha.
O sol não acaba a miséria, mas a aumenta.

Nsuwa khannòtxela etthu,
khannatthawa etthu.
ti mwene òhivitha etthu.
O sol não desconsegue nada,
não foge de nada,
é chefe que não esconde nada.

Nsuwa nnakhala ni owali valaponi.
O sol vive sempre zangado com o mundo.

Nsuwa mwene onòna itthu,
nnòneiha wothe itthu sihinòneya.
ti vanto onàtthawihaiye atthu.
O sol é o rei que vê as coisas,
até desvela as coisas invisíveis,
por isso afugenta a gente.

Karí omwene wa nsuwa,
yàmwàtta atthu okitthawa.
Se eu fosse o reino do sol,
muitos fugiriam de mim.

Omwene wa nsuwa orika wettela,
ti ohasula, khonlevela.
O reino do sol custa seguir:
faz sofrer, não perdoa.

Onthamwene ti omwene wa nsuwa: onovileliwa.
A amizade é como o reino do sol: suporta-se.

Muteko wovara vansuwani ti okhulumula.
O trabalho que se faz ao sol, cansa.

Mulipa òvilela avaraka muteko,
onakhala omwene wa nsuwa.
O trabalhador paciente vive no reino do sol.

Nsuwa mulopwaná:
miteko sawe ti soviha ntoko nsuwa,
sinamwaleliwa ni nsuwa.
O sol é o homem:
os seus trabalhos são quentes/árduos como o sol.
pois são iluminados pelo sol.

Oviha wa nsuwa onahima
wi okumi ni okhwa wòkhala:
Muluku ovaha ni okuxa.
O aquecer do sol significa
que existe a vida e a morte: Deus dá e toma.

Oviha wa nsuwa,
atthu ohiyu annakona vate.
Devido ao calor do sol,
as pessoas de noite dormem fora.

Malosa nsuwa: khaninthanla.
O agouro é como o sol: não escolhe.

Nthorokolo nsuwa n’eliwe: khannàsiwa.
O falar demasiado é como o sol do verão:
não se procura.

Mulipa òresi t’onòra nsuwa,
noresi nsuwa onarera ettuli.
È o preguiçoso que se aquece ao sol,
vira as costas ao sol.

Witthaniwa ori ntoko nsuwa
nnètta vakhani vakhani.
A chamada é como sol que anda devagar.

Nsuwa nnìmwinla wi amaye khavo.
Okhwa w’atata,
amalapo anakimana nsuwa nòpaka.
O sol chora, pois a mãe não vive mais.
Pela morte do tio os estrangeiros
batem-me até de dia com o sol.

Khapulu eri etthu yovilela nsuwa,
mwala aviheru khantthawa.
O lagarto é um bicho que suporta o sol,
apesar de a rocha estar quente, ele não foge.

Mahi anawelela ni nsuwa.
A água evapora com o sol.

Mwene khanvithiwa nsuwa vamuru.
O rei não se enterra ao meio dia.

Nsuwa khannìwanana ni mwana mukhanene,
niwoko ti mweri munyowani wa Muluku.
O sol não coordena com a criança pequena,
porque é o novilúnio de Deus.



6.5 Sol: específico positivo

Embora a predominância dos aspectos negativos, dolorosos do sol, a biosofia e biosfera xirima não esquece de explicitar uns aspectos solares positivos, como o de ser motivo de esperança ao mutthu ao vê-lo surgir cada dia. É energia que fortifica os trabalhos do mutthu, sobretudo do mulopwana, é calor que faz crescer e amadurecer tudo na machamba e por fim por iluminar tudo com a sua luz, é critério eurístico e gnoseológico: iluminar/desvelar é conhecer e fazer conhecer.

Wopa wa nsuwa ti enenero yoxa nnene valaponi.
O brilho do sol é o sinal
que se amanheceu bem no mundo.

Nakhumá nsuwa,
atthu ni inama sinimwètta.
Ao despontar do sol, o mutthu e os animais andam.

Apapa òwani khasuwenle mweri,
asuwenle nsuwa pahi, ti xeni? Muthupi.
Um pai em casa não conhece a lua mas só o sol,
quem é? O galo.

Okhwa warí ntoko nsuwa elapo ya vathi, khanànla,
niwoko khannapisa ohokolowa.
Se a morte aqui na terra fosse como o sol,
não choraríamos, pois não demora a regressar.

Nsuwa ikuru sa othana
sinàkhavihera atthu wera evareke miteko saya
sinnùnnuwiha sothesene.
O sol é a energia do dia:
ajuda a pessoa a fazer os seus trabalhos,
faz amadurecer tudo.

Nsuwa t’osuweliha itthu:
khenasuweliwa ehòneiye.
O sol faz conhecer a realidade:
não se conhece nada que não seja visível.


6.6 Preminência e primazia da lua

Os textos que marcam a primazia da lua na biosofia e biosfera xirima são taxativos e enfáticos. È escutando estes textos que se percebe a característica da astrologia da biosofia e biosfera xirima que vira ao inverso a comum e corrente concepção científica: o sol é um escravo, um múltiplo, um derivativo, um efeito da lua, sua causa genética.

Nsuwa kaporo a mweri.
O sol é o escravo da lua.

Nsuwa ekahi, mweri mwapu.
O sol é a cabaça, a lua é a panela.

Nsuwa mwene, mweri pwiyamwene.
O sol é o chefe, a lua a matriarca.

Mweri ti wowixa osulú opwaha nsuwa.
É a lua que supera em altura o sol.

Mweri khonakhuma vansuwani,
ti nsuwa nnakhuma vamwerini.
A lua não sai do sol,
mas é o sol que sai da lua.

Mpuwa wa mamwene mutokwene ti mweri,
niwoko oyariwa wa mwana
khannalikeleliwa nsuwa, nto mweri.
Dentro das autoridades a maior é a lua.
porque o nascimento da criança
não se conta com o sol, mas com a lua/meses.

Nipuro nohimakiwa
opihe mweri.
No lugar onde não se habita,
tem que fazer chegar a lua.

Nitho ntokwene ti n’athiyana:
avaheriwe wona mweri.
O grande olho é da mulher,
deu-se-lhe para ver/ter a lua/menstruo.

Makholo owahu ari ntoko mweri.
Os nossos antepassados são como a lua.

Ekahi yòttela enamurera Muluku
tevi? ti mweri.
Qual é a cabaça branca/sagrada
que Deus prefere? A lua.

Mweri waraka, Muluku onettelela elapo awe.
Mweri waraka onnuluma ni mutthu
Ekhalelo ya mweri ti ekhalelo ya Muluku,
murima wa Muluku khonaruha ekhotto.
Quando brilha a lua, Deus controla o seu mundo
e conversa com a pessoa.
A característica da lua é a de Deus,
pois o coração de Deus não tráz a guerra.


7- Mweri - itheneri - Nsuwa ni ekristu
Lua - estrelas -sol e a fé cristã

Também comentando o aforismo em estudo, os pesquisadores cristãos quase instintivamente passaram do simbólico ao real, do cultural próprio da biosofia e biosfera deles ao peculiar da fé cristã, fazendo emprego do princípio quiproquo analógico, reempregando e transpondo muitos aspectos da polaridade lua e sol no contexto cristão. Se o aforismo leva a salientar conteúdos cristãos, estes por sua vez relativizam o aforismo transformado-o em evento ou melhor relacionam o valor literário do aforismo ao evento cristão.


7.1 Cristologia
Jesus é realização da polaridade/gemelagem lua e sol na respectiva complementariedade inclusiva e exclusiva. Também cristologicamente o lunar referido a Jesus prevalece sobre o solar, mas em textos trinitários é Jesus o sol, enquanto Deus Pai/Mãe é a lua.
A polaridade lua e sol serve ao cristão xirima para entender a relação de Jesus e a Igreja, exprimida evidentemente em plena conformidade com os princípios da biosofia e biosfera xirima: Jesus é a lua, a causa genética e primacial, e a igreja é por um lado as estrelas sinergéticas com a lua/Deus e, por outro, é o sol, o efeito consequencial.

Yesu ti mweri ni nsuwa
pwiyamwene ni mwene a ettini yothene.
Jesus é lua e sol,
é matriarca e chefe de cada religião.

Yesu Kristu nsuwa nihirino nthalu:
ni tho ntoko mweri onawiraniha sothene.
Jesus Cristo é como o sol sem discriminação,
é também como a lua que sintoniza com tudo.

Yesu nsuwa onnètta ni nlevelelo na Atith’awe mweri:
oweli ekumi ya sopattuxiwa sothene
Jesus-sol anda com o perdão do seu Pai-lua:
ambos são vida de toda a geração.

Muttanda wa Yesu ori
mweri onaririha ni onamwitthuwiha
mmuttuxini mwaya mirima
A cruz de Jesus é a lua
que resfria e faz descansar os corações na sombra.

Makholo khayòva mweri nari nsuwa:
Yesu hatá àpwaha sowerya sothene
sa wirimu ni sa vathi.
Os antepassados não temiam a lua nem o sol:
Jesus porém até superou
todas as potências celestes e terrestres.

Ntoko mweri ni nsuwa oweli aya anvaraya vamosá,
siso tho Yesu (mweri) ni ekereja (nsuwa) awe.
Como a lua e o sol ambos trabalham em conjunto,
assim também Jesus (lua) com a sua Igreja (sol).

Yesu ori ntoko mweri ni nsuwa,
niwoko ihuhu sopili ori vavo.
Jesus é lua e sol,
porque ele em ambos vive/consiste


7.2 Mariologia

A mãe de Jesus, Maria, para o cristão xirima é a lua geradora que dá à luz Jesus, seu Filho, o sol. Consequentemente é também a matriarca de todas as mães, suas estrelas, isto é, suas colaboradoras.

Maria mweri
amuyanre mwan’awe Yesu Kristu
ori nsuwa ninamwalela
ni ninnavuluxa miloko sothene,
Maria é a lua,
deu à luz o seu Filho Jesus,
que é o sol que ilumina e salva todos os povos.

Maria ti pwiyamwene a asimaye othene:
Maria ti mweri, asimaye ti itheneri.
Maria é a matriarca de todas as mães:
Maria é a lua, as mães são as estrelas.


7.3 ética cristã
Em plena conformidade com a lógica xirima, na aplicação ética do aforismo em estudo, prevalecem os textos do sol ou das estrelas aplicados à vida cristã. As aplicações estelares vão em favor da lua, as solares se tornam o modelo simbólico das fases da vida cristã.
A dualidade/gemelagem lua e sol é vista como ícone do diálogo interreligioso e intercultural. A lua é a cultura da biosofia e biosfera xirima que dialoga conjugando-se com a fé cristã e islâmica. Um texto de inspiração islâmica chega a afirmar poeticamente que Abraão nos gerou para ver o sol, enquanto que o Deus namúlico assim como Jesus nos geraram para ver a lua. È um texto curioso e ao mesmo tempo precioso e altamente significativo porque apresenta uma genuina radiografia do processo osmótico e simbiótico no encontro interreligioso e intercultural. Se a biosofia xirima cristã aceita a primazia lunar, a biosofia xirima islâmica prefere a primazia solar. Em outras palavras, uma religião monoteísta e marcadamente monística e patriarcal como é o Islão, não podia que optar para o sol, embora tenha como emblema a lua, enquanto que uma religião monoteísta mas aberta e plural trinitariamente como aquela cristã, embora biblicamente de inspiração solar e patriarcal, não acusa dificuldades algumas em optar e aceitar simpateticamente o horizonte intencional da lua e da sinergia das estrelas da biosofia e biosfera xirima.
Por fim, a mesma polaridade lua e sol é motivo de identificação do sol com o comportamento de Satanás. A dualidade então se torna dualismo antitético entre Deus e Satanás, entre dois caminhos, o do bem e o do mal.

Nsuwa nnarera woxixelo ni woxekuwa,
nsuwa va muru hoye:
ori ntoko Yesu/mkristu onàkhula ikhalelo ttharu:
oyariwa, okhwa ni ovinyerera.
O sol é agradável de manhã e à tarde,
mas não a meio-dia:
é como Jesus ou o cristão
que responde a três momentos existenciais:
nascimento, morte e ressurreição.

Nsuwa nri ntoko evanjelyu:
orika wettiha ovoreya onyala.
O sol é como o Evangelho:
difícil a seguir, dói muito.

Itheneri sinnalipiha mweri:
apixa murima annakhomaliha ekereja.
As estrelas fortificam a lua:
os bondosos/santos fortificam a Igreja.

Mkristu onnèttela iphiro pili:
yele ya mweri ni yele ya nsuwa,
eyo tiyo, yele ya makholo ni tho yele ya Biblya
O cristão segue dois caminhos:
aquele da lua e aquele do sol, a dizer,
aquele dos antepassados e aquele da Bíblia.

Mkristu onnawèttela mamwene meli:
Mutholo ni Biblya.
siso tho mmakha Mutholo ni Alcorani.
O cristão seguem duas autoridades:
o Mutholo (árvore sagrada tradicional) e a Bíblia.
Assim também o muçulmano segue
o Mutholo e o Alcorão.

Muluku Namuli siso tho Yesu t’aniyanre
wera nòne mweri.
Ibrahimu òniyara wera nòne nsuwa
Deus Namuli como também Jesus
nos geraram para vermos a lua,
Abraão gerou-nos para vermos o sol.

Mweri wàryaka, anansuwa wànyonya:
mkristu alaleryaka, satana èreraka.
A lua quando brilha o sol não gosta:
quando o cristão anuncia, é tentado pelo Satanás

Nsuwa namuteko a satana: omwene awe ojehena
O sol é um trabalhador de Satanás:
o seu reino é o da Jehena.


9- Avaliação final
O estudo pormenorizado do aforismo deu a possibilidade de compreender e ao mesmo tempo justificar as afirmações taxativas inicialmente feitas acerca do sentido e dos coeficientes simbólicos que a biosofia e biosfera xirima atribui ao seu mundo astrológico, em particular à lua, às estrelas e ao sol.
Viu-se com abundância de textos que a lua ocupa a primazia a todos os níveis, embora não em maneira absoluta e exclusiva, mas sempre propensa em aceitar a complementariedade solar , de ordem porém e de valor secundário. A lua é ícone e paradigma genético e causal da teologia e da antropologia feminina na biosofia e biosfera matriarcal xirima, de maneira que o teológico, o cósmico, o antropológico e o ético reveste sempre coeficientes por um lado lunares e nocturnos e por outro femininos, maternais e matriarcais.
O mundo da estrelas está completamente ao serviço da lua e do seu horizonte intencional, confirmando a sinergia e sinodalidade de Deus Namuli com os seus intermediários.
Ficou por fim explicada a posição secundária, consequencial, dependente, efectiva do sol, um astro complementar sem dúvida à lua, mas sempre um derivado do horizonte semântico da lua, um astro dos efeitos que as causas lunares e nocturnas produzem, uma entidade múltipla da lua. Por isso o seu horizonte é em prevalência o horizonte do dia, do visível, do mundo operativo e laborial do mutthu, preferencialmente do homem/mulopwana. Daí a ambiguidade que caracteriza o horizonte semântico solar:
- luz agradável inicialmente mas que se torna obcecante logo e irreverente mostrando a realidade nua e crua como é;
- calor necessário e providencial para o crescimento e amadurecimento dos produtos na machamba, mas também estio tórrido sem misericórdia que faz secar e murchar tudo, obriga o mutthu à fadiga, ao suor e ao sofrimento.
Em conclusão, a lua é fortemente hierófana e teófana, ao passo que o sol é essencialmente cosmófano e antropófano; a lua é o horizonte da transcendentalidade de Deus namúlico e da mulher (arquétipo anima), o sol é o horizonte da categorialidade do cosmos e do homem/mulopwana (arquétipo animus), evidentemente na recíproca complementariedade. Por fim, a lua é sinónimo de serenidade, frescura, conversa amena e tranquilizante, de revisão e perdão, ao passo que o sol é sinónimo de sofrimento, calor excessivo.
Isto significa uma reviravolta não apenas no horizonte astronómico, mas também e sobretudo no horizonte da hermenêutica e dos respectivos campos aplicativos do dialogo intercultural e interreligioso.
Viu-se que no campo cristológico, mariológico e ético, o encontro do mundo astral da biosofia xirima com o Kerigma cristão produziu textos significativos. Também neste contexto, o aforismo como expressão literária e cultural inspira semanticamente o Kerigma e este concretiza o aforismo relacionando-o a um evento histórico. A passagem da linguagem ao evento, a fermentação metabólica leva sempre a uma troca fecunda de dons.




Sem comentários:

Enviar um comentário